O GLOBO
Nem bem escolheram seu candidato à Presidência da República, os tucanos já estão se debatendo entre si pela eleição de 2010, como se Geraldo Alckmim não tivesse condições de vencer Lula nas eleições de outubro. Ou como se já houvesse um consenso sobre fim da reeleição. O prefeito de São Paulo, José Serra, ao que tudo indica deixará o cargo para disputar o governo de São Paulo, já de olho na Presidência
Até mesmo é aventada a hipótese de que, se desincompatibilizando hoje, Serra poderá, na eventualidade de a candidatura de Alckmim não decolar, ser indicado como candidato do PSDB na convenção de junho.
O governador Aécio Neves, por sua vez, anunciou que se candidatará à reeleição, mas já fala em um "projeto nacional" para 2010 e critica a hegemonia paulista, demonstrando que será uma pedra no caminho de Serra ao Palácio do Planalto. Ou será que está pensando também em inviabilizar uma eventual tentativa de reeleição de Alckmim?
O governador mineiro sinaliza a segunda etapa de seu projeto político com a realização em Belo Horizonte de eventos de alcance nacional, e até mesmo internacional, como a reunião do BID que acontece lá, ou o show da turnê de despedida do tenor Luciano Pavarotti, adiado para o meio do ano.
Em evento paralelo à reunião do BID, o governo mineiro está promovendo um seminário que reunirá o formulador do Consenso de Washington, o economista John Williamsom, e dois prêmios Nobel — Douglass North (1993) e Joseph Stiglitz (2001) — além do economista-chefe do Departamento de Relações Econômicas e Sociais da ONU, Jan Kregel.
O candidato oficial do PSDB, Geraldo Alckmim, terá que conviver com esses fantasmas, embora tenha uma vantagem sobre o que aconteceu com Serra em 2002: mesmo que não queiram, tanto Aécio quanto Serra levarão para Alckmim muitos votos nos dois maiores colégios eleitorais do país.
O Lula de hoje não é o da outra eleição, que tinha o apoio majoritário da população. Hoje, com o eleitorado dividido entre Lula e o anti-Lula, e com os escândalos de corrupção comendo a credibilidade do governo, não há muito espaço para alianças "brancas" que favoreçam o governo.
Ao que tudo indica, em São Paulo os dois tucanos não terão que dividir o eleitorado com um candidato petista forte, como aconteceu em 2002. De qualquer maneira, não tem sentido dar início à disputa de 2010 sem nem ter começado a deste ano. Outro dia, um tucano radiante fez o seguinte comentário: "Não é preciso oposição, esse governo se atrapalha por si mesmo, só dá tiro no pé".
É verdade, mas os tucanos também não ficam atrás em suas trapalhadas. Só há uma diferença entre os dois: a rapidez com que os tucanos se livram de seus incômodos políticos e a lentidão com que os petistas resolvem suas pendengas.
Os tucanos devem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a lição de agir rapidamente quando apanhados no contrapé. Já na campanha de 1994, quando o então ministro da Fazenda Rubens Ricupero foi alcançado pela parabólica se gabando da própria esperteza — "O que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde" — sua substituição foi fulminante, apesar de ser um ministro altamente popular na ocasião.
O então governador do Ceará, Ciro Gomes, assumiu a Fazenda num golpe de marketing perfeito, pois Ciro também era muito popular naquele momento. Fez uma série de "bondades" no ministério, como a tarifa zero para importação de certos produtos por pessoas físicas, que acarretaram vantagens eleitorais claras para Fernando Henrique naquele clima entusiasmado do início do Plano Real.
Já no governo, depois de ter trocado o vice original, Guilherme Palmeira, pelo senador Marco Maciel, que nunca gerou um pingo de desconfiança em sua atividade política, o presidente Fernando Henrique não poupou os principais colaboradores a cada situação embaraçosa que se apresentava.
Foram substituídos sucessivamente, por decisão própria ou premidos pela situação, em movimentos rápidos, o ministro do Desenvolvimento e amigo fraterno Clóvis Carvalho; o secretário particular Eduardo Jorge; os economistas Pérsio Arida, André Lara Resende e Luiz Carlos Mendonça de Barros; Xico Graziano; o diplomata Julio César Santos; o ministro da Aeronáutica Mauro Gandra, e por aí vai. Todas ações fulminantes, para não dar margem à exploração política dos casos.
Quando fugiu dessa prática, contra a opinião de Fernando Henrique, no caso recente do senador Eduardo Azeredo, acusado de ter iniciado o esquema de Marcos Valério de financiamentos de campanha política em 1998 em Minas, o PSDB se expôs politicamente. Azeredo era não apenas o presidente do partido como também um político muito querido, e seus pares custaram a exigir sua renúncia ao cargo.
Hoje, indiciado na CPI dos Correios, é o exemplo usado pela situação de que o PSDB tem os mesmos hábitos petistas no financiamento de campanhas eleitorais, embora seu caso seja claramente de caixa dois e não de mensalão através do valerioduto.
O governador Geraldo Alckmim também agiu rápido ao tirar de seu governo o secretário de imprensa Roger Ferreira, um de seus homens de confiança, depois que surgiram denúncias de que verbas publicitárias da Nossa Caixa foram usadas para financiar órgão de imprensa ligados a políticos em troca de apoio na Assembléia. Mas está lento demais nas explicações sobre os 400 vestidos de alta costura que sua mulher teria recebido de presente de um costureiro paulista.