Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 30, 2006

DORA KRAMER Garotinho, um vice em gestação

OESP
 
Garotinho, um vice em gestação

Hipótese ainda é remota, mas está no cardápio de conversas entre PMDB e PSDB

Dora Kramer

O casal Garotinho, Anthony e Rosinha, passou de terça para quarta-feira uma noite de indefinições entre garantir o certo ou apostar no duvidoso. Ontem de manhã os dois chegaram a uma decisão: a governadora do Rio de Janeiro fica no cargo até o fim e o pré-candidato à Presidência da República leva seu nome até a convenção do PMDB, em junho, assumindo todos os riscos de implosão da candidatura própria do partido.

Se isso ocorrer, no limite Garotinho poderá encontrar um porto seguro no PSDB, com quem vem estreitando afinidades desde que suas relações com o PT - o "partido da boquinha" - degringolaram de vez.

Nos últimos dias, ele e o candidato Geraldo Alckmin conversaram várias vezes ao telefone. Não fecharam acordo algum e o ex-governador do Rio tampouco se sente autorizado a detalhar o tema. Mas não chega a repudiar com veemência uma possibilidade já corrente entre os tucanos de, mais à frente, vir a compor chapa com o PSDB ocupando a vaga de vice.

Na visão tucana, o PFL já estaria muito bem atendido com a Prefeitura e o governo de São Paulo, cumprindo o restante dos mandatos de José Serra e Geraldo Alckmin, e mais o apoio do PSDB a diversas candidaturas pefelistas a governos estaduais. Além disso, com o PMDB isolaria o PT totalmente e aliaria o populismo de Garotinho ao elitismo do tucanato.

Sentido faz, mas por enquanto a hipótese ainda é remota. O PMDB não dispõe de unidade para fechar alianças com quem quer que seja e Anthony Garotinho mostra-se disposto a lutar pela candidatura a presidente. "Vou para o tudo ou nada", anuncia ele, pondo fim às especulações de que a governadora deixaria hoje o cargo para se candidatar ao Senado e, assim, lhe garantir condições legais para se eleger deputado federal.

"Esta seria a solução mais cômoda, menos arriscada e mais desejada por lideranças locais", explica Garotinho, convicto de que sua mulher não apenas seria eleita senadora, como ele teria votação recorde para a Câmara.

Mas, examinando as pesquisas de opinião e pesando as conseqüências da última crise para a candidatura do presidente Luiz Inácio da Silva, o pemedebista chegou à conclusão de que a situação do PT é irrecuperável e, portanto, vale a pena correr perigo de ficar sem mandato. Ou, quem sabe, chegar a bom termo de negociação com os tucanos.

"As pesquisas mostram que Lula perdeu apoio, Geraldo Alckmin cresceu e as últimas propagandas do PMDB na televisão me asseguram um patamar de 15% de preferência." A se manter o quadro, Garotinho acha inevitável a alteração da correlação de forças dentro do PMDB. Em miúdos: Lula enfraquecido, a tendência da ala governista é perder fôlego ou se transferir de armas e bagagens para uma candidatura mais viável ou passar a trabalhar pela candidatura própria como forma de desidratar os tucanos e evitar uma derrota de Lula no primeiro turno.

"Com o governo forte, a candidatura própria era ruim para o PT e seus aliados dentro do PMDB. Com o governo fraco, passa a interessar aos petistas um candidato que divida votos e assegure a realização do segundo turno", raciocina.

Mas, para que as elaborações eleitorais de Garotinho correspondam à realidade, é necessário que a queda de Lula, como ele acredita, se aprofunde e consolide. Caso PT e PSDB mantenham a polarização mais ou menos igualitária até o final, o pemedebista ficará mesmo a ver navios, pois seu partido tenderá a embarcar dividido nas duas canoas.

E aí? O sempre obstinado Anthony Garotinho ri ao molde de quem tem jogo escondido para jogar e repete seu agora predileto bordão: "Vou para o tudo ou nada."

Pé ao alvo

O PT faz o seu papel ao tentar salvar os seus do relatório final da CPI dos Correios que assumidamente a oposição pretende usar na campanha como uma peça de acusação contra o governo Lula.

Mas conviria ao partido ir devagar com a louça da pressão e as tentativas de anular o relatório com vistas a desmoralizar a CPI porque se arrisca, de novo, a dar outro tiro no pé. Afinal, o relatório não produziu novidades capazes de alterar o jogo eleitoral. Não será por ele que Lula ganhará ou perderá as eleições.

Agora, a depender da dimensão dos estratagemas usados para desqualificar o relatório, o PT se arrisca a perder ainda mais pontos na opinião pública. Os fatos recentes comprovam o potencial de perigo contido nesse tipo de investida.

O deputado Osmar Serraglio produziu um relatório consistente e em acordo com aquilo que o País todo acompanhou durante os dez meses de funcionamento da CPI dos Correios. Não mostrou novidades, não foi muito além do já sabido e, até por isso mesmo, não ficou aquém do esperado.

Nada de muito extraordinário, portanto, diante de tantas anomalias cometidas e conhecidas no transcorrer do último ano. A CPI fez o seu trabalho e o PT não tem nada a perder - ao contrário - rendendo-se, ao menos uma vez "republicanamente", às acachapantes evidências.

E-mail: dkramer@estadao.com.br

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