O GLOBO
O fato de o governador paulista Geraldo Alckmin não ter posição política forte nesse início de campanha eleitoral está fazendo com que ele seja mais acessível a acordos políticos que ampliem a participação de líderes regionais do PSDB na formação do eventual futuro governo e também abram mais espaço para a atuação política do PFL, que, como era previsível, aderiu à sua candidatura ainda no primeiro turno. Já há algum tempo a predominância de políticos paulistas nas decisões do PSDB era contestada dentro do partido, que tem líderes regionais importantes como os governadores Aécio Neves, de Minas, e Marconi Perillo, de Goiás, e o senador Arthur Virgílio, do Amazonas.
Foi essa necessidade de descentralização das decisões partidárias que levou novamente à presidência do partido o senador cearense Tasso Jereissati e à formação do triunvirato formado por ele, Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique para escolher entre dois paulistas o candidato do partido.
Alckmin começa a campanha eleitoral se empenhando em desfazer a imagem de candidato essencialmente paulista que ele ainda é. Vai montar a coordenação de sua campanha em Brasília, para onde talvez se mude, negocia amplos poderes para o PFL com o prefeito do Rio, Cesar Maia, e prefere ter um vice nordestino para recuperar terreno na região onde Lula tem sua maior votação.
Essa característica da candidatura Alckmin faz com que ele seja suscetível a temas como descentralização administrativa e participação efetiva dos partidos coligados no governo. Temas delicados para postulantes a presidente da República em um país onde esse cargo reúne imenso poder político, e instrumentos de persuasão, como o orçamento meramente autorizativo, e de coerção, como as medidas provisórias.
É bom sinal, por isso, que as negociações com o PFL tenham sido precedidas de um documento no qual são colocadas questões como a reforma tributária ou a reforma política, com a adesão ao parlamentarismo. O documento partidário, coordenado pelo prefeito do Rio, propõe a Concertación chilena como paradigma da coligação entre PSDB e PFL, o que prevê uma participação efetiva na formulação do plano de governo.
O fortalecimento da federação é um desses temas básicos, e certamente conta com a adesão dos principais líderes regionais do PSDB. Na análise do PFL, nos últimos dez anos a federação vem perdendo substância devido à centralização fiscal no governo federal e ao poder das medidas provisórias do Executivo. O documento cita o modelo norte-americano de governo, "onde o poder legislativo tem todas as iniciativas de lei e até empenha as despesas aprovadas por ele no Orçamento".
Ao mesmo tempo em que insiste em uma aliança programática, o PFL reconhece que no nosso modelo atual, os programas partidários são menos importantes para os eleitores do que o personagem que o candidato à Presidência representa durante a campanha. Analisando as últimas cinco eleições, o PFL se outorga o titulo de partido "de maior base parlamentar federal no Brasil, com ampla capilaridade regional, cuja direção responde ao equilíbrio federativo".
O documento do PFL defende a adoção do parlamentarismo, "modelando-o à necessidade de um poder presidencial moderador, que garanta nossa unidade para dentro e para fora, que cumpra as funções de estado, nas relações e na segurança externas, e no zelo constitucional".
Nesse documento, implicitamente aceito como base das negociações da coligação anunciada na sexta-feira, estão contidas pelo menos duas das mais importantes reformas que o próximo presidente terá que realizar, a política e a tributária. A discussão de teses como essas certamente não tomará conta do debate na campanha eleitoral, que se prenuncia das mais agressivas dos últimos tempos.
O próprio Cesar Maia, ao mesmo tempo em que coloca em discussão dentro da coligação temas que sabe não são "eleitorais", exige de Alckmin maior agressividade para "desconstruir" Lula. E cabe ao PFL o papel de "bad cop" (mau policial) na campanha eleitoral, com anúncios televisivos contundentes contra o governo.
A questão moral será também o centro das candidaturas dos demais partidos de oposição, que ainda analisam se devem lançar candidatos próprios, unir-se entre si ou simplesmente desistir de ter candidato para se fortalecerem nos estados, em busca dos votos necessários para ultrapassar as cláusulas de barreira. Uma coisa é certa: Lula terá contra si uma artilharia, da direita à esquerda, centrada nas denúncias de corrupção.
O senador Jefferson Peres deve se lançar candidato pelo PDT neste fim de semana, ao mesmo tempo em que seu partido conversa com o PPS, que até o momento também pretende lançar como candidato seu presidente, o deputado Roberto Freire.
Quem está decidido a ter candidato próprio é o PSOL, tendo como base o resgate da ética na política. A senadora Heloisa Helena aparece nas pesquisas de opinião com um apoio expressivo, entre 5 a 8%, dependendo do instituto de pesquisa.
Na definição do deputado Chico Alencar, o PSOL vai representar "os que ainda acreditam que uma nova política, um novo Brasil, um outro mundo é possível", isto é, vai tentar tomar o lugar do PT de anos atrás, não contaminado pela "mosca azul" do exercício do poder.
O PSOL, com apenas um minuto de propaganda gratuita no rádio e na televisão, pode exercer o papel de grande zebra desta eleição, graças à popularidade da senadora Heloisa Helena. E até junho Garotinho terá que convencer o PMDB de que pode desempenhar esse papel, graças aos 25 minutos de propaganda gratuita a que o partido tem direito. A tarefa da senadora Heloisa Helena é mais fácil.