FOLHA
Ontem em São Paulo reuniram-se empresas associadas da Fundação Nacional da Qualidade. Foi o evento anual de premiação das empresas que obtiveram maior pontuação, de acordo com os critérios de avaliação da fundação.
Nas discussões, houve consenso de que o grande desafio será o de levar a gestão ao setor público? Mas de que maneira? Em Juiz de Fora, a Belgo Mineira implantou programas de qualidade em vários hospitais públicos, criou programa de qualidade municipal e aumentou a participação dos fornecedores locais de R$ 8 para R$ 100 milhões ano. Em sua região de atuação, a CPFL está apoiando a ação de hospitais e santas casas.
Anos atrás, um dos premiados foi a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Com um plano de qualidade bem empregado, em pouco tempo reduziu de 16 horas para 8 minutos o tempo médio para marcar consulta.
Até hoje, nenhum governante deu-se conta do poder de mobilização do movimento pela qualidade. No Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, a premiação mobiliza milhares de pessoas, de pequenos empresários a grandes organizações.
Estima-se que hoje em dia pelo menos 1,5 milhão de pessoas estejam envolvidas com programas de qualidade. Trata-se de um contingente valiosíssimo, que entendeu a questão da competitividade, que passou a desenvolver um pensamento sofisticado em relação às empresas.
Ao contrário da política econômica dos últimos dez anos, as empresas que aplicaram programas de qualidade aprenderam a entender sua realidade de forma sistêmica. Cada departamento trabalha visando o resultado final para a empresa, não para seu departamento. Para tanto, tem que entender a lógica dos demais departamentos e seu papel para a estratégia final da companhia.
Compare-se esse tipo de raciocínio com o raciocínio monofásico dos gestores da política econômica. O Banco Central tem só um objetivo: o de reduzir a inflação a qualquer preço. Aplica uma taxa de juros altíssima que explode com a dívida pública. Mas aí não é mais problema seu, e sim do Tesouro e da Receita. E aprecia o câmbio com os juros praticados, mas aí o problema dos saldos comerciais é com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
O Tesouro, por sua vez, quer criar uma curva de juros racional, onde quem aplica por prazo maior recebe mais juros. Mas as metas do BC impedem, porque o banco oferece o máximo de rentabilidade pelo mínimo de prazo. Aí o Tesouro resolve dar um by-pass no BC e consegue a desoneração dos investimentos externos, para tentar ampliar o prazo de colocação da dívida como se o mercado não tivesse vasos comunicantes. Ao fazer isso, aprecia mais o câmbio, mas isso é problema do MDIC.
Por seu turno, a Receita aumenta a tributação para dar conta da cobertura das despesas, desestimula as atividades econômicas ou encarece o crédito. Mas, se suas metas são atendidas, o resto é problema da Fazenda e do BC.
Há um pensamento sofisticado na análise, simples na formulação, que foi desenvolvido ao longo dos últimos 15 anos. No dia em que houver um presidente disposto a empunhar a bandeira da qualidade, a economia encontrará seu rumo.
Entrevista:O Estado inteligente
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