E agora, Petrobras?
Auditoria do TCU confirma que
a estatal beneficiou a GDK, ligada
a "Silvinho Land Rover"
Camila Pereira
Em 2005, VEJA revelou as irregularidades do negócio |
A Petrobras publicou, em julho do ano passado, um anúncio nos principais jornais do país cujo título era: "A revista VEJA mentiu". O anúncio se referia à reportagem "O petróleo é deles", publicada na semana anterior. Nela, VEJA relatava como o ex-secretário do PT Silvio Pereira, em parceria com o lobista Fernando Moura, havia usado de sua influência no governo para defender interesses de empresas privadas junto à Petrobras, entre elas a baiana GDK – a mesma que presenteou Silvinho, como é conhecido o ex-secretário, com um Land Rover no valor de 73.500 reais. A revista afirmava que, entre outras falcatruas, a dupla havia atuado para que a GDK ganhasse a concorrência para realizar obras de adaptação na plataforma P-34 – um contrato de 88 milhões de dólares. VEJA disse que a proposta da GDK era irregular e que, por esse motivo, deveria ter sido descartada. No anúncio que fez publicar, a Petrobras negou a existência de falhas no contrato e disse que VEJA fazia acusações "sem o respaldo de provas e com base em fontes protegidas pelo anonimato".
Lula Marques/Folha Imagem |
Silvinho, segundo o relatório da CPI: "caso exemplar de tráfico de influência" |
Pois bem. Na semana passada, veio a público um relatório que apresenta os resultados de um extenso trabalho de auditoria, realizado por técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU), sobre o tal contrato. A conclusão a que chegaram foi que ele exibia "graves, inaceitáveis e inúmeras irregularidades". Dentre os principais problemas identificados no relatório estão a antecipação, feita pela estatal à empreiteira, de pagamentos por serviços "não necessários, não realizados e superfaturados" e a existência de indícios de favorecimento à GDK no processo de licitação, tal como VEJA havia descrito. Ao fim do relatório, os auditores recomendam a retenção de 17 milhões de dólares que a Petrobras ainda deve à GDK. São 74 páginas de análises e conclusões devastadoras para a estatal, que, na semana passada, novamente tentou negar o inegável por meio de anúncios em jornais.
Quando veio a público a informação de que Silvio Pereira ganhara um carro de luxo de presente de uma empresa privada que prestava serviços a uma empresa do governo, o então secretário-geral do PT divulgou uma nota lacrimosa. No texto, admitia ter cometido um "erro" ao aceitar o presente da empreiteira, mas afirmava que nada oferecera, ou lhe havia sido pedido, em troca. Afinada com o discurso de Silvinho, a Petrobras, no anúncio publicado no ano passado, dizia ser "mentirosa" a afirmação de VEJA de que o petista, assim como o lobista Fernando Moura (que, estranhamente, jamais foi chamado para depor sobre o assunto), influía em decisões da estatal visando a beneficiar empresas amigas. Após ser desmentida pelos auditores do TCU, a Petrobras terá de enfrentar nesta semana a divulgação de mais um documento que a compromete: o relatório final da CPI dos Correios. Os parlamentares redigiram um capítulo inteiramente dedicado ao caso do ex-secretário petista e suas andanças pela Petrobras/GDK. O título é auto-explicativo: "Silvio Pereira/GDK: caso exemplar de tráfico de influência".
Quem foi mesmo que mentiu?