Nada, ninguém escapa no desmonte das denúncias confirmadas, que salpicam no presidente-candidato Lula, com respingos no filho Lulinha, o favorito dos financiamentos privilegiados; inundam o Congresso no lodaçal da corrupção e arranham o Judiciário, que paga os pecados da calamitosa presidência do ministro-político Nelson Jobim.
A extensão do estrago e as suas conseqüências não podem ser avaliadas no estupor das revelações, que confirmam e provam o que se sabia; avançam, devassam esconsos desconhecidos e remexe a lama que tresanda a ardida catinga da vergonha da sociedade, vítima do logro da esperança e pronta a usar a arma do voto para a desforra na faxina de 1° de outubro.
Depois de penosas negociações com o desatinado grupo de parlamentares petistas, com o laço apertando o gogó, o presidente-candidato foi poupado no relatório, embora sem escapar da honra da citação para assistir do palanque eleitoral o final do espetáculo. Mas, em dois trancos, a situação azedou o vinho adocicado da subida dos índices de popularidade nas pesquisas e impõe uma traiçoeira pausa na caça ao voto em tempo integral para a tarefa prioritária de tentar segurar o governo desmantelado com a reforma do monstrengo de 31 ministros e secretários, que balança como goiabada bichada na vastidão do cerrado.
O arrogante candidato ao bis do mandato terá que cuidar das obra de emergência no pardieiro que ameaça desmoronar. Só no nicho governista, entre os defenestrados em episódios suspeitos e titulares com a cabeça a prêmio, o relato alinha o ex-chefe da Casa Civil, ex-deputado José Dirceu; o ex-presidente do PT, José Genoino; o ex- secretário-geral Sílvio Pereira; o ex-ministro de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, rebaixado a Secretário de Comunicação e mais sumido que pulga em cachorro peludo; além dos satélites que brilharam mais do que Saturno e seus anéis: o companheiro Delúbio Soares e o parceiro Marcos Valério, que viraram substantivos, sinônimos de corrupção.
Não é apenas o governo que precisa ser reestruturado, antes da meia-sola na campanha. O inegável acerto na fulminante troca do amigo, ''mais íntimo do que um irmão'', Antonio Palocci, pelo novo ministro Guido Mantega, aceito com suspiros de alívio e aplausos pelo setor financeiro, não encerra o episódio mafioso da mansão no Lago Azul da República de Ribeirão Preto. O caseiro Francenildo Costa continua a sua romaria de depoimentos, como bomba-relógio ativada.
Mas, a estrela do momento, é a CPMI dos Correios. Antes que se encerre o previsível e veemente debate sobre o relatório para a sua urgente votação, o Congresso, especialmente a Câmara, têm o que pode ser o último prazo para a articulação da saída de emergência. Com a inclusão de 20 parlamentares entre os 122 listados nos pedidos de indiciamento, além dos cinco que aguardam a decisão do Conselho de Ética, não há alternativa para a Câmara, mas uma única, estreita porta de saída que leva ao corredor da imediata reforma de usos e costumes desregrados. Para já, nas votações dos pedidos de cassação de mandatos, que devem chover sobre o plenário na corrente do salve-se-quem-puder: a opinião pública não suportará a repetição do despudor das últimas absolvições dos deputados João Magno e Wanderval Santos, que fecham o bloco da meia dúzia dos liberados pelo acordo por baixo do pano do PT com seus aliados.
Entre os tais males que vêem para bem, talvez haja uma vaga para a reação do pudor parlamentar, cutucado pelo instinto de sobrevivência.
Antes que o nojo, a raiva, o vexame engrossem com o tempero das manifestações populares na Praça dos Três Poderes, o Congresso precisa dar uma satisfação ao país. Por atos, que de falácia estamos saciados.
Extremar o confronto entre governo e oposição pode acabar mal: ao invés de garantir mandatos, implodir com a eleição. O blablablá da consolidação do regime democrático é um bom tema para discurso que deve ser usado com moderação.
Ou a deputada-bailarina, Ângela Guadagnin suspende o show das saltitantes comemorações no festival de absolvições ou quem acaba dançando é o Congresso.