Há dias, o jovem nascido no Piauí revelou ao jornal O Estado de S. Paulo que o ministro freqüentava regularmente o suspeitíssimo clube. Só tinham acesso à mansão figuras que conheceram Palocci nos tempos de prefeito de Ribeirão Preto. Alternadamente, ali ocorriam reuniões entre lobistas interessados em tungar cofres públicos e noitadas alegres. A CPI dos Bingos resolveu ouvir Francenildo no dia 16. Lula acompanhou pela TV o começo do depoimento. Aquilo, e o que viria, era dinamite pura.
O senador acreano Tião Viana, companheiro disciplinado, foi o escolhido para o trabalho sujo: solicitar ao Supremo Tribunal Federal a suspensão do depoimento. O ministro César Peluzzo estava lá para conceder a liminar.
Lula ficou feliz com o êxito da trama. Mais feliz ficaria com a notícia obtida com o estupro do sigilo bancário do caseiro. Ele ganha R$ 700 por mês. Mas tinha quase R$ 30 mil depositados na Caixa Econômica Federal.
Só poderia ser dinheiro doado por oposicionistas baseados no Piauí, deduziram os cérebros do Planalto. O dinheiro fora remetido de Teresina, em três parcelas. De pronto, dezenas de agentes da Polícia Federal voaram para lá.
Com a naturalidade dos inocentes, o caseiro contou que recebera o dinheiro do pai biológico. Dono de uma pequena frota de ônibus, sempre se recusara a assumir a paternidade. Para silenciar o filho, presenteou-o com a bolada. Para impedir que Palocci sofresse constrangimentos em casa, o governo estuprou também a privacidade familiar de Francenildo. Os agentes em Teresina nada tinham a apurar.
Quem praticou a ação infame? Cinco minutos seriam suficientes para identificar o responsável. O presidente da Caixa, Jorge Mattoso, pediu 15 dias de prazo. Enquanto procura algum bode expiatório, o governo tenta desqualificar Francenildo com mentiras delirantes. A mais recente: investigá-lo por lavagem de dinheiro.
''Queria que quebrassem meu sigilo eleitoral'', sugere o caseiro. ''Saberiam se um simples caseiro votou no simples operário que agora está lá em cima''. Em vez de meditar sobre a frase, Lula só pensa em salvar Palocci. É um bom companheiro.
Perplexo com o comportamento da Caixa Econômica Federal no caso do caseiro Nildo, Cabôco foi à agência onde guardava R$ 38 e fechou a conta. Aliviado, pergunta: o que estão esperando milhares de correntistas igualmente indignados? O herói que nada esquece está à procura de um marqueteiro disposto a organizar a campanha cujo mote está pronto: "Sai da Caixa você também".
Aprenda com Regina, Paloma
Íntegra e valente, a talentosa atriz Regina Duarte não teve medo de dizer que tinha medo de um Brasil governado pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração eriçou patrulhas ideológicas do PT.
Escolhida não pela qualidade artística, mas pela coincidência dos sobrenomes, a noviça Paloma Duarte revidou em nome dos artistas devotos de Lula. A esperança venceria o medo, recitou Paloma.
O escândalo do mensalão tornou bem menos loquaz a turma que sempre subia ao palanque de Lula. Alguns emudeceram, como Paloma. Quando a voz voltar, deveria pedir desculpas a Regina.
Nesta semana a taça vai para...
... o senador Mozarildo Cavalcanti, do PTB de Roraima, pela frase com que saudou a ministra Ellen Gracie Northfleet, primeira mulher a assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal:
''Como ginecologista, aprendi a lidar de perto com as mulheres e a entender profundamente a alma feminina''.
Os critérios da safadeza
Em 2003, o governador Geraldo Alckmin solicitou R$ 394 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, presidido por Carlos Lessa. O dinheiro seria aplicado nas obras do metrô de São Paulo, no trecho Vila Mariana-Ipiranga. Crítico da política econômica, Lessa foi substituído por Guido Mantega, que vetou a transação.
Afronta à estética e agressão à ética
Excitados com o rosto e a silhueta de Diana Buani, jornalistas de Brasília apressaram-se a homenageá-la. A mulher do dono do restaurante da Câmara, extorquido pelo deputado Severino Cavalcanti, foi eleita "musa do mensalão".
A precipitação da imprensa resultou numa injustiça. Diana tem jeito de miss, mas entrou na história como integrante do elenco das vítimas. Musa de verdade, só se figurasse no time dos bandidos. A busca terminou na quinta-feira.
A faixa encontrou o corpo certo (e a coroa, o rosto perfeito) na deputada Ângela Guadagnin. Foi escolhida depois de rebolar no plenário.
A estranha dança da parlamentar paulista configurou, simultaneamente, um atentado à estética, um pontapé na moral e uma afronta à ética.
Nas reuniões do Conselho de Ética da Câmara, a carrancuda petista incorporou um exotismo desconcertante. Ali, Ângela lembra um buldogue amestrado pelo avesso: em vez de proteger a casa assaltada, rosna para avisar ao assaltante que a polícia vem aí.
Na semana passada, eufórica com a absolvição do companheiro João Magno (PT-MG), trocou a carranca pelo sorriso e rebolou o corpanzil entre as cadeiras. Os mensaleiros enfim ganharam a musa perfeita. Ela e eles se merecem.
É um banco ou é bando?
O mundaréu de patifarias envolvendo o Banco Rural descoberto no annus horribilis bastaria, em lugares menos primitivos, para dissolver a instituição e remeter à cadeia uma penca de diretores. Como estamos no Brasil, a CPI dos Correios, que andou investigando o banco mineiro em 2005, apenas ampliou um formidável prontuário.
O banco chegou ao noticiário político-policial pelas mãos do notório PC Farias. Depois vieram a CPI do Orçamento, a dos Títulos Públicos, a do Futebol, a do Narcotráfico, a do Banestado e a dos Correios. Esta é a mais recente. Não será a última. No Rural, CPIs são tão rotineiras quanto medidas destinadas a aviltar os salários dos empregados.