Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 26, 2006

EDITORIAL DE O GLOBO Tradição negativa



Em meados de 2002, na campanha eleitoral, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, por meio da Carta ao Povo Brasileiro, o compromisso de respeitar contratos e os princípios básicos de uma administração macroeconômica sensata.

Lula salvou ali o seu governo. Mas vestiu a faixa presidencial e tomou posse com uma pesada carga de preconceito contra o projeto de modernização do Estado lançado na era de Fernando Henrique Cardoso.

O desconhecimento da importância das agências reguladoras para atrair o investimento privado vinha desse preconceito. O PT não digeria o caráter autônomo das agências. Já presidente, Lula as acusou de "terceirizarem" o Estado.

Recebeu críticas por isso e depois iniciou-se um debate em torno do tema a partir de um projeto de regulamentação desses organismos, elaborado pelo governo e até hoje estacionado no Congresso. Não se voltou a discutir o assunto, mas o preconceito de Lula, PT e do governo continuou.

A prova é a falta de cuidado com que o Executivo trata as agências. E o exemplo mais recente desse desprezo — e a intenção de controlá-las — está no preenchimento de cargos na diretoria da recém-criada Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Dos quatro diretores indicados, só um, o coronel Jorge Vellozo, egresso do Departamento de Aviação Civil (DAC), é do ramo. O presidente, Milton Zuanazzi, tem experiência em turismo e é filiado ao PT gaúcho, origem da ministra Dilma Rousseff. Outro diretor, Leur Lomanto, estava na Infraero, é ex-deputado e apadrinhado pelo PMDB. Já Denise de Abreu ostenta no currículo ligações com o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu.

O loteamento político de cargos atinge também o Porto de Santos, como revelou a "Folha de S.Paulo". Entrevistado pelo jornal, o deputado Vicente Cascione, do PTB paulista, com base eleitoral em Santos, não escondeu as nomeações políticas para a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), administradora do porto. Entende-se por que há obras em atraso no porto, em prejuízo de boa parte das exportações brasileiras.

Lotear ou aparelhar o Estado é uma das piores tradições da vida política brasileira. Infelizmente, seguida com rara competência pelo governo Lula.

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