Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 28, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Fim de festa

FOLHA

BRASÍLIA - A queda de Palocci confirma uma combinação explosiva do governo Lula: desconhecimento, inexperiência e arrogância. Jogar o peso do Estado contra um caseiro que ousou desmentir um ministro já raiava a loucura. Como foi o presidente da CEF quem violou o sigilo bancário e quem entregou em mãos o troféu para o ministro da Fazenda, é pura loucura.
Mas tem a ver com um governo que achava que podia tudo: calar a boca de procuradores, da imprensa e dos funcionários públicos, expulsar um jornalista estrangeiro e estimular borbulhantes casas de lobistas.
Antes, tudo era explicado como reação a um "golpe das elites" contra o operário que chegou à Presidência. Desta vez, não colou. Francenildo é um mero caseiro piauiense de 24 anos -pobre e eleitor de Lula.
A paciência e as opções estão minguando. Os homens do presidente, Dirceu, Gushiken, Genoino e Palocci, caíram, um a um, e só sobraram o senador Aloizio Mercadante e o presidente do BNDES, Guido Mantega.
Mercadante virou três-em-um: foi um dos dois nomes lembrados para a Fazenda, mas tem de negociar com PFL e PSDB e conter os arroubos do PT no Senado -e é quem está melhor para o governo de São Paulo, apesar do risco de perder para o tucano José Serra no primeiro turno.
Deu Mantega na Fazenda. Foi igualmente voz econômica do PT durante muitos anos, mas passa a impressão de que Lula tem de pescar no segundo escalão para concluir minimamente o primeiro mandato.
Já era voz corrente que os melhores ministros não são do PT, como Márcio Thomaz Bastos, Celso Amorim, Roberto Rodrigues e Luiz Fernando Furlan. Se houver novas baixas, a situação ficará crítica. Como hipótese: se Henrique Meirelles saísse, quem assumiria o BC? Lula, ao assumir, ainda com todo o gás e se comportando como se tivesse chegado para ficar 20 anos, tentou seis nomes, sem sucesso. Chegou ao tucano Meirelles por exclusão. Imagine hoje. Melhor: imagine um segundo mandato.


@ - elianec@uol.com.br
 

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