Antonio Palocci é um ator. E de razoável talento, é justo reconhecermos.
Políticos são atores (e pensando bem: quem não é?). Escolhem um papel e tentam desempenhá-lo da melhor maneira possível.
Mas qual é o Palocci mais próximo daquele reconhecido por sua mãe, parentes e amigos de fundo de quintal?
Será o que deixou boa impressão até o final do ano passado – um homem sincero, equilibrado, gentil e ao mesmo tempo tenaz, que não deixava o governo se apartar da sensatez econômica?
Ou será esse que começou há pouco a ser apresentado ao país – um tomador de dinheiro para o caixa 2 do PT, capaz de desviar recursos públicos, freqüentar mansões onde rolavam festas e negócios suspeitos e mentir a uma CPI?
Do governo Lula, sabe-se há bastante tempo que não é o que seu fundador prometeu fazer.
Sua rala eficácia não foi uma surpresa e até seria desculpável dado ao fato de que Lula jamais governou sequer uma prefeitura.
Era impensável, contudo, que fosse um governo de pouco ou de nenhum compromisso com a moralidade pública.
Só não foi tragado pelo escândado da compra do apoio de deputados por que a oposição temeu herdar um país convulsionado. Na hora H, ela se borrou.
Esse governo tinha uma face perversa. E ela se impôs assustadora nos últimos 10 dias.
Para salvar Palocci, o governo não teve o mínimo pudor de jogar todo o seu peso na tentativa de esmagar o caseiro Francenildo dos Santos Costa. Ele disse ter visto o ministro de 10 a 20 vezes em local que ele nega ter freqüentado.
Um motorista viu o ministro por lá três vezes. E um corretor, uma vez.
A mulher do caseiro viu mais de uma vez - mas ela está em pânico e não quer depor. Compreensível.
Foi fulminante a ação do governo para desqualificar e acuar Francenildo.
Na quinta-feira 16, Francenildo repetiu na CPI dos Bingos o que havia dito três dias antes em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Não pode ir além.
Autorizado por Lula, o PT pedira ao Supremo Tribunal Federal que sustasse o depoimento dele. E o Supremo sustou.
Na sexta-feira 17, às 18h45, a revista ÉPOCA divulgou no seu blog que de janeiro último até a véspera haviam sido depositados R$ 30 mil na conta de Francenildo na Caixa Econômica Federal.
Às 19h10, a Caixa informou ao Banco Central que registrara sinais de "depósitos atípicos" na conta.
Na manhã do dia 20, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda repassou a mesma informação à Polícia Federal.
Dali a três dias, intimado a depor na Polícia Federal, Francenildo soube que está sendo investigado por suspeita de lavagem de dinheiro.
É verdade que os R$ 30 mil haviam se reduzido a R$ 25 mil. E que o empresário Eurípedes Soares, do Piauí, confirmara que doara o dinheiro a Francenildo, seu filho bastardo.
Nem por isso o caseiro foi deixado em paz.
Sem saber e à sua revelia, inaugurara o Programa de Intimidação de Testemunhas, versão cruel do que serve para proteger.
Há uma intenção explícita, escancarada, e outra oculta no torniquete que o governo aplica em Francenildo.
A explícita busca apenas desmoralizá-lo.
A oculta se vale dele para barrar o surgimento de testemunhas que possam em qualquer tempo embaraçar o governo.
Francenildo foi escolhido para servir de exemplo do tratamento reservado pelo governo a quem ameace sua estabilidade e seu futuro.
À merda todos os escrúpulos quando o que está em jogo é a permanência no poder a qualquer preço.
Enviada por: Ricardo Noblat