Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 29, 2006

LUÍS NASSIF A economia sem Palocci

FSP
Como ficará a economia com a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda? Em relação aos objetivos centrais da política econômica -fazer superávits primários, manter o ritmo atual de queda dos juros, não mexer com o câmbio-, não se devem esperar mudanças significativas. Não há tempo útil e, com as eleições, entra-se em um terreno de alta volatilidade, em que a melhor política é não fazer muita marola.
Nem se deve esperar uma aceleração na queda de juros.
Em 2002, a então diretoria do Banco Central cometeu uma série de erros graves, como a introdução fora de hora da marcação a mercado, a venda desastrosa de "swaps" cambiais amarrados a LFTs. Mas, para o mercado, o principal erro foi a redução da taxa de juros antes da hora, tornando mais barato apostar contra o Brasil. Certa ou errada, é a convicção que prevaleceu e que certamente pesará em qualquer decisão do Banco Central de reduzir a taxa de juros além do programado.
Palocci tem uma virtude fundamental, que fará falta: o discurso. Crescia em momentos de crise e sabia como ninguém acalmar o mercado. Esse papel, do ator político, é fundamental para articular expectativas. Seu sucessor, Guido Mantega, é mais preparado que Palocci, porém mais tímido. Sua capacidade de enfrentar crises terá que ser testada na prática. Não adotará nenhuma atitude que possa criar nervosismo no mercado, mas terá que se aprimorar naquilo em que seu antecessor era craque: na forma de falar para o mercado.
Leve-se em conta que os próximos meses serão de um acirramento cada vez maior da campanha política. Eclodiu a Segunda Onda de denúncias, acirrada pela gravidade do crime cometido de quebra de sigilo bancário do caseiro. Por outro lado, as denúncias da Folha de domingo passado inauguraram a temporada de levantamento da vida do candidato Geraldo Alckmin.
Nesse jogo, há uma curiosidade já lembrada por Eliane Cantanhêde. A dinâmica da mídia exige novidade. Denúncias contra Lula deixaram de sê-lo, embora o fator Paulo Okamotto paire como um ectoplasma sobre o presidente. A novidade são as denúncias contra Alckmin.
Nesse período de campanha pesada contra Lula, o governo não parou. Uma estrutura complexa, como o governo federal, sempre tem o que mostrar. A novidade será a apresentação de cada feito administrativo de Lula. Do lado de Alckmin, a novidade será a exposição de cada fragilidade gerencial.
Trata-se de um fenômeno que já abordei algumas vezes na coluna e é filho da mesma matriz psicológica que leva aos movimentos de manada no mercado financeiro. Um ativo passa a ser muito procurado e fica caro. Quando há a percepção de que ficou caro, há um movimento de desova que joga o preço para baixo até que alguém percebe que ficou barato e recomeça o movimento de alta.
Lula estava em um franco movimento de apreciação. A Segunda Onda poderá abortar esse crescimento. Mas, na outra ponta, Alckmin começará a passar pelos primeiros testes de imagem. E ambos os lados estarão cuspindo fogo.
Para o mercado, a conclusão que se tira é que, em tempo de eleições, não existem certezas, só previsões. E a previsão é que, desde 1989, nenhuma campanha promete ser tão suja quanto esta.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br
 

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