editorial |
O Estado de S. Paulo |
21/5/2008 |
Fossem outros os tempos e as pessoas, a passagem de Carlos Minc pelo governo federal teria terminado na ante-sala do presidente da República. Lá, um funcionário de terceiro escalão o teria informado de que o presidente Lula havia se equivocado ao convidá-lo para assumir o Ministério do Meio Ambiente e ficava o dito pelo não dito. Mas as coisas e as pessoas são como são e esse é o único aspecto sério do episódio da escolha do sucessor da ministra Marina Silva. O resto foi pura pantomima. Sondado para ser o novo ministro, quando estava em Paris em missão oficial, na qualidade de secretário do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Minc a princípio relutou e, em seguida, anunciou publicamente que aceitaria a nomeação se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, aceitasse dez “condições” que ele impunha. Avisado de que o convidado para um Ministério não impõe condições ao presidente da República, mas dele recebe missões, trocou a palavra “condições” por “propostas”, salientando que, com isso, deixava de ser “indelicado”. Apesar do mau começo, o convite continuou de pé. Já em Brasília, na primeira das sete entrevistas coletivas que concedeu em menos de sete horas e antes de conversar com o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, explicou que não impusera “condições de trabalho” - que, “na verdade, são muito mais do que as que foram colocadas” - por arrogância. “Arrogância seria imaginar que eu pudesse desempenhar uma missão, para a qual eu tenho dúvidas se estou à altura, sem ter condições de trabalho.” E, apesar da confissão de que não se sente apto para exercer o Ministério, continuou convidado. Finalmente, conversou com o presidente Lula e, antes que dissesse qualquer coisa, foi avisado de que suas três principais “condições” eram inaceitáveis. O secretário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, para o qual Minc dissera que “não tinha planos”, continuará como gestor do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Sua sugestão de que fosse nomeado um “gestor local” para o PAS nem foi considerada. Para a ministra Marina Silva, a nomeação de Mangabeira Unger para a função foi a gota d’água que a levou a deixar o Ministério, por se sentir desprestigiada. Para Carlos Minc, isso não fez diferença. Também ficou sabendo que o Ministério do Meio Ambiente não receberá as verbas contingenciadas, que se destinam à formação do superávit primário, e que deve desistir da idéia de colocar o Exército na fiscalização dos recursos naturais da Amazônia. Momentos antes de ouvir as “condições” que efetivamente valem - as do presidente da República -, Carlos Minc havia dito que atribuía o convite para ocupar o Ministério do Meio Ambiente ao fato de Lula ter ficado impressionado com a desburocratização do processo ambiental no Rio de Janeiro. “Acho que isso encheu os olhos do presidente. Mas talvez ele não saiba o resto da história: para fazer isso tudo tem que ter autonomia, poder e dinheiro.” Mas são esses os tempos e as pessoas e Carlos Minc deixou o gabinete presidencial sem autonomia, sem poder e sem dinheiro - mas ministro. Não se pense que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comeu gato por lebre. Ele queria exatamente alguém com as características de Carlos Minc para substituir a ministra Marina Silva. Precisava de alguém com comportamento exuberante e bom relacionamento com as ONGs ambientalistas do Brasil e do Exterior - e, se possível, com alguma capacidade gerencial. Não por acaso, a recomendação que deu ao novo ministro foi: “Seja criativo, Minc. A única coisa que você não pode fazer é não ter idéia.” E idéias é o que Carlos Minc tem de sobra. Se são pertinentes, se são factíveis, esse é outro problema. As idéias jorram e com isso ele ocupa espaço na mídia. Tudo o que faz é para chamar a atenção dos meios de comunicação, a começar da maneira cuidadosamente extravagante como se veste. “Sou performático, continuarei performático”, define-se Carlos Minc. “Não vou virar vidraça, não vou me enforcar na gravata. Vocês vão me ver por aí combatendo crimes ambientais.” E conclui, teatral: “Tremei, poluidores, tremei. Vai todo mundo para a cadeia, de preferência, plantando muita árvore e limpando rios. Serei intolerante com o crime ambiental.” O tempo dirá se Carlos Minc está à altura da missão que recebeu. |
Entrevista:O Estado inteligente
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'Tremei, poluidores, tremei'
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