Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 31, 2008

Tirando o pé da lama


Nascida na Inglaterra das guerras napoleônicas, a bota de
borracha, que até recentemente sobrevivia no campo e na
fábrica, ganhou coleção de estampas e virou acessório de moda


Bel Moherdaui


Divulgação

Em um país frio e chuvoso como a Inglaterra, botas de borracha, ainda que pouco glamourosas, fazem todo o sentido – seja para ir à caça, como a rainha Elizabeth, ou ao show de rock, como a sempre chique, ainda que enlameada, modelo Kate Moss. E no resto do mundo? É um modismo irresistível. "Fomos fazer pesquisa para a nossa coleção em Nova York logo depois do Carnaval e pegamos uma nevasca. No dia seguinte a cidade inteira apareceu de galocha", conta a estilista Mariana Braidatto, que sabiamente ignorou o fato de inexistir neve em São Paulo – aliás, ultimamente nem inverno – e apostou na novidade. Os quarenta pares que ela e a sócia trouxeram para mostruário foram vendidos em dois dias. Enquanto a remessa fabricada na China não chegava, formou-se uma lista de espera de 350 mulheres ansiosas por desfilar de botinhas que, fora do ramo utilitário, não costumavam ser usadas por ninguém com mais de 12 anos. Até em Brasília, uma das cidades mais secas do planeta, as galochas sumiram das prateleiras da butique de luxo Magrella. Em pleno verão. "Eu trouxe porque é um hit, mas pensei mais na decoração, na vitrine, em fazer uma graça para o lançamento da coleção de inverno. Vendi absolutamente tudo", conta Cleuza Ferreira, dona da loja. Preço médio: 500 reais. Uma pechincha, considerando-se que as botas Gucci vendidas – todas – na Daslu bateram em 1 300 reais.

Calçado-padrão dos funcionários de frigoríficos e de empresas de limpeza, a bota de borracha, agora também de plástico, pode ser recriada como acessório de moda numa infinidade de padrões – flores, frutos, bolas, listras e estampas animais. Já apareceu em etiquetas como Prada, Chanel, Marc Jacobs e Burberry, e em pés célebres, como os das atrizes Jennifer Garner e Kristin Davis e da apresentadora Adriane Galisteu. A Alpargatas, fabricante da quase cinqüentona Sete Léguas, criou há um ano e meio uma linha nova com cores e padronagens variadas, elaborada pela mesma equipe de estilo que trabalha com o grande sucesso da empresa, as Havaianas. O fenômeno poderia se repetir? "São casos diferentes. A Sete Léguas é um produto mais restrito, não tem tradição de uso como a sandália. Ainda assim, temos de aproveitar a tendência", responde Márcio Utsch, presidente da empresa.

A história das botas de borracha remonta ao século XIX e, voltando ao país das chuvas, ao duque de Wellington, o herói britânico famoso por ter derrotado Napoleão em Waterloo. Foi a seu pedido que as botas militares ganharam uma versão mais curta e confortável. Com o desenvolvimento do processo de vulcanização (em que a borracha é submetida a altas temperatura e pressão por alguns minutos, para se adaptar a um molde), o couro foi substituído pelo material impermeável nas versões mais utilitárias. Na Inglaterra ainda são chamadas de wellies, um diminutivo carinhoso de Wellington. Se não usadas com graça e modernidade, podem provocar um desastre maior do que Waterloo no visual de qualquer mulher.


Edward G. Malindine/Getty Images
Fotos Tim Graham/Getty Images e Bill Davila/Film Magic/Getty Images
Parada: modelos históricos fotografados na década de 20; a rainha, no campo; Jennifer, Kristin e Adriane, na moda
Fotos James Devaney/Wireimage/Getty Images e Lourival Ribeiro/Ag. News

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