É bom esclarecer que este ranking lista apenas empresas de capital aberto com ações negociadas em bolsas de valores. Não entram na disputa, por exemplo, a venezuelana PDVSA (a quinta maior petrolífera do mundo e com volume de reservas de óleo sete vezes maior do que a Petrobrás) e a mexicana Pemex, ambas de capital fechado e 100% estatais. Outro detalhe a destacar: a posição das empresas neste ranking é instável, justamente porque o critério de avaliação é o preço da ação negociada em bolsa, sujeito a oscilações decorrentes de fatores por vezes incontroláveis. Há poucos meses a Vale valia mais que a Petrobrás e agora caiu para o nono lugar. Mas tal critério, por algum tempo, vai favorecer a Petrobrás diante da expectativa de promissoras descobertas de óleo no litoral que se estende do Espírito Santo a Santa Catarina.
Curiosamente, a Petrobrás promovida ao terceiro lugar não chega a empolgar o ministro da área energética, Edison Lobão, preocupado que está com as tratativas para a escolha do Maranhão - cujo governo ele pretende disputar em 2010 - para a estatal construir sua próxima refinaria. Há dez dias o amigo da família Sarney se apressou em anunciar com pompa, em Brasília, que seu Estado foi escolhido e o Ceará preterido para abrigar a maior refinaria do País, com capacidade de processar 500 mil barris/dia. Na segunda-feira, o diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, desmentiu o ministro: ainda não há definição, a localização da refinaria terá de esperar a avaliação de uma série de detalhes técnicos.
Mas Lobão insiste. Afinal, a definição da escolha de Pernambuco para outra refinaria demorou anos e seu tempo é curto, visto que seu reinado no Ministério de Minas e Energia, na melhor das hipóteses, termina no início de 2010, quando terá de se desincompatibilizar para disputar eleições. Ele precisa que as obras comecem logo para servirem de principal bandeira política de sua campanha. A saída é pressionar, enquanto tem poder político de ministro.
Mas a direção da Petrobrás resiste, porque sabe o quanto uma decisão apressada e movida por pressões políticas prejudica uma empresa com mais de 500 mil acionistas, inclusive fora do País, que confiam numa gestão técnica para continuar comprando suas ações e garantindo recursos para os investimentos caros que ela precisa fazer para perfurar e encontrar óleo abaixo da camada de pré-sal. A percepção do acionista de existência de influência política em ações e decisões tem prejudicado o desempenho financeiro da Petrobrás ao longo de sua história. Disso sabe seu corpo técnico e por isso tenta resistir. Nem sempre com sucesso.
O comportamento de Lobão lembra episódio vivido pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Antonio Paes de Andrade, quando ocupou a Presidência da República por uma semana, enquanto o presidente José Sarney viajava. Cearense, Paes de Andrade tratou de transferir a sede do governo federal não para Fortaleza, mas para Mombaça, sua cidade natal. Afinal, seu breve momento de glória no cargo mais importante da Nação merecia ser compartilhado com seus patrícios de Mombaça. Também Lobão sabe que sua passagem pelo Ministério é breve e tenta dela extrair dividendos políticos.
Na terça-feira a Petrobrás anunciou mais uma nova descoberta de óleo abaixo da camada de pré-sal, na Bacia de Santos. Embora não mensurado, sabe-se haver ali, entre o Espírito Santo e Santa Catarina, gigantescas reservas de óleo e gás. Por isso as ações da Petrobrás não param de subir na Bovespa e na Bolsa de Nova York. Mas, sozinha, a estatal não conseguirá perfurar, explorar e retirar tanto óleo do fundo do mar. E o País precisa produzir riqueza, criar empregos, gerar progresso econômico e social. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) precisa atrair outras empresas e reiniciar os leilões de áreas nesta região. Que se mudem as regras dos contratos, mas não demorem.
*Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-RJ. E-mail: sucaldas@terra.com.br