Um passo acima
Ex-secretário confirma que dossiê era mesmo
dossiê e que foi produzido na Casa Civil
Alexandre Oltramari
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Havia uma grande expectativa na semana passada em torno do depoimento do ex-secretário de Controle Interno da Presidência da República José Aparecido Nunes Pires. Apontado como o responsável pelo vazamento do dossiê montado no Palácio do Planalto com informações sobre as despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aparecido não falou tudo que sabia, mas balizou o caminho para que a Polícia Federal chegue ao que efetivamente interessa: os mentores do documento usado ilegalmente para chantagear, intimidar e constranger a oposição. O ex-secretário disse que recebeu o dossiê de um servidor que participou do grupo encarregado de produzi-lo. Portanto, confirmou a existência oficial do documento, algo que o governo insistia em negar. Aparecido também apontou o secretário de Administração da Presidência, Norberto Temóteo, como uma espécie de coordenador do trabalho. Deixou claro, assim, que o material foi confeccionado na Casa Civil, onde funciona a secretaria, de modo organizado e com o uso da estrutura funcional do Palácio. Basta à Polícia Federal perguntar a Norberto Temóteo, um servidor subordinado à ministra Dilma Rousseff, de quem partiu a ordem para fazer o dossiê e o caso estará oficialmente esclarecido. Extra-oficialmente, não há nenhuma dúvida, mesmo tendo Aparecido se negado a revelar a identidade do chefe, informação que ele repassou a pelo menos três pessoas.
O depoimento da semana passada também foi vital para mostrar os verdadeiros propósitos do dossiê. Está demonstrado que o e-mail contendo o documento visava mesmo a mandar um recado à oposição. A mensagem saiu do computador de Aparecido no Palácio do Planalto e chegou ao Congresso no dia 20 de fevereiro – pouco mais de uma semana depois do início dos trabalhos dos servidores que vasculhavam as contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de sua família e de seus principais auxiliares. No entanto, muito antes disso, os jornais já publicavam informações sobre a existência do dossiê e detalhes sobre a suposta "munição" que o governo armazenava para atacar a oposição, caso fosse instalada a CPI dos Cartões Corporativos, que se propunha a investigar as despesas do presidente Lula. Diante dessa cronologia, ficam evidentes as motivações do grupo que deu a ordem para fazer o dossiê. O problema é que o documento era para ficar guardado. Aparecido, ao repassar uma cópia do dossiê a um amigo do Senado, sabe-se lá por que motivos, o que pouco importa a essa altura, acabou revelando o método perverso de fazer política que está incrustado nos genes de muitos petistas. Mas ainda faltam nomes. O secretário Temóteo mandou dizer que, por enquanto, não vai falar sobre o assunto.