Pesquisa revela que padres e freiras estão
no topo do ranking da tensão profissional
Vanessa Vieira
Lailson Santos | ||
A irmã Mary Helen: fé e futebol para aliviar a tensão da vida religiosa | ||
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O ranking das profissões mais estressantes costuma ser liderado por categorias com responsabilidade sobre a vida de outras pessoas, como controladores de vôo e médicos do setor de emergência. Uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma), recém-concluída, encontrou um aspecto inesperado nesse assunto: padres e freiras brasileiros estão entre os mais estressados. Os pesquisadores da Isma, que ouviram 1.600 profissionais das cinco regiões brasileiras, concluíram que os religiosos sofrem pressões semelhantes, e até maiores, às de outras categorias reconhecidamente propensas ao stress, como executivos, policiais, atendentes de telemarketing e motoristas de ônibus. Uma das chaves para entender o desgaste emocional dos religiosos talvez esteja na natureza da carreira – um sacerdócio. A ocupação exige voto de dedicação e obediência para a vida toda, afastamento da família e promessa de celibato e castidade sexual. O religioso não tem jornada de trabalho estabelecida e deve estar constantemente à disposição dos paroquianos. "O padre é padre a toda hora", diz o padre Reginaldo Lima, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Há também excesso de trabalho, pois o clero nacional é pequeno para o tamanho do rebanho. Há um padre para cada 10.000 brasileiros (nos Estados Unidos, a média é de um sacerdote para cada 2.000 pessoas). Frei Gentil de Lima, da paróquia Profeta Elias, em Curitiba, desdobra-se entre nada menos que doze comunidades, com 80.000 moradores. Para atender a todas, foi criado um rodízio de celebrações, que prevê missas, batizados e casamentos em dias alternados. Nos domingos ocorrem quinze missas. Ele também supervisiona quinze atividades beneficentes, e tudo depende de doações. "Isso preocupa, porque não temos a segurança de que vamos conseguir arcar com tudo", explica ele.
A psicóloga Ana Maria Rossi, coordenadora da pesquisa de stress profissional da Isma no Brasil, diz que outra fonte de tensão é a expectativa dos fiéis, que esperam dos sacerdotes um comportamento exemplar. "Eles são constantemente observados e avaliados", afirma Ana Maria. A contrapartida a tanta pressão é o fato de que, de acordo com a pesquisa da Isma, padres e freiras são a categoria profissional que com maior freqüência se diz feliz e mais raramente se sente sem esperança. A resposta para esse aparente paradoxo pode estar na fé. A freira Mary Helen, da ordem das Beneditinas Missionárias de Tutzing, de Sorocaba, divide seu tempo entre o convento e o trabalho no Colégio Santa Escolástica. "Nossa ordem segue o lema de São Bento: ora et labora, ou seja, trabalho e oração. É o equilíbrio que dá sentido à vida, que nos faz sentir alegres e realizados", comenta. Na prática, ela recorre a uma terapia mais prosaica para relaxar: o esporte. A freira, que cursou a faculdade de educação física antes de se decidir pela vida religiosa, joga no time de futebol da escola. Mary Helen, dizem os estudantes, bate um bolão.
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