Apesar de ter sido responsabilizado por não deter a crise dos créditos hipotecários podres (subprime) quando era presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan continua sendo guru importante dos mercados. Tanto é assim que cobra US$ 150 mil para proferir palestra a uma platéia sempre atenta à sua arenga fanhosa.
Pois Greenspan mostrou segunda-feira que aderiu à tese de que a estirada dos preços não é apenas produto do desarranjo dos fundamentos do mercado (procura maior do que a oferta); para ele, é cada vez mais conseqüência do jogo especulativo.
Na ponta oposta estão os analistas do Goldman Sachs, liderados por Arjun Murti, que dia 5 divulgaram paper em que argumentam que são os fundamentos que devem empurrar os preços do barril para US$ 150 a US$ 200 no período compreendido entre 6 e 24 meses. Como essa equipe havia predito em 2005 que então estaria próximo o dia em que os preços passariam dos US$ 105, a nova previsão foi levada a sério. Nos dias seguintes, os preços galoparam para a altura dos US$ 135. Fecharam ontem nos R$ 132,19, com tendência de alta.
Em artigo divulgado no portal do Financial Times (Goldman?s analysts speak, and the price of crude rises), dois comentaristas - Javier Blas e Sarah O?Connor - despejaram um barril de ácido sulfúrico contra o que eles chamaram de posição da "gangue de Wall Street". Não é preciso dizer mais. Para eles, as atuais cotações do petróleo são manipuladas.
Para Anatole Kaletsky, respeitado comentarista do diário britânico The Times, o mercado futuro do petróleo adquiriu características de bolha financeira. Ele argumenta que não houve mudança relevante nos fundamentos do mercado nos últimos nove meses a ponto de justificar a alta de 92% nos preços. E se apega ao especialista Mike Rothman, da influente consultoria ISI, de Nova York, para afirmar que "o avanço da demanda global está agora abaixo do crescimento da produção dos países de fora da Opep do ano passado, que foi de 0,8 milhão de barris diários".
Outro analista do Lehman Brothers, Edward Morse, publicou dia 16 artigo (Is it a Bubble?) em que também desfila argumentos que reforçam o caráter especulativo da alta. Seus cálculos apontam para estirada nas aplicações financeiras em índices de commodities. Saltaram de US$ 70 bilhões no início de 2006 para US$ 235 bilhões em meados de abril deste ano.
"São números que parecem uma ninharia quando comparados com os trilhões aplicados em títulos e em ações no mercado global. Mas o mercado de commodities é comparativamente pequeno e de baixa liquidez." "A compra de US$ 1 milhão em posições de petróleo puxa em 0,016% o índice GSCI de Commodities", diz. A moral da história é que não é preciso muito capital para provocar uma disparada no índice. Esse mesmo volume aplicado em cacau provocaria alta de 3,186%. (Veja tabela.)
Como dá para desconfiar, muitas dessas não são opiniões isentas. Refletem posições compradas ou vendidas e, nesse jogo perigoso, a vítima pode ser todos nós.
Confira
Vem mesmo - Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desmentiu o adiamento da criação do Fundo Soberano do Brasil. O projeto está sendo ultimado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e será encaminhado dentro de alguns dias ao Congresso.
Desta vez, Mantega não escondeu que um dos objetivos do Fundo é mesmo evitar a excessiva valorização do real, por meio da compra de dólares pelo Tesouro, com o excesso de arrecadação.
Bastou essa afirmação para que o dólar, em queda no câmbio interno, fechasse em alta.