Dança estatal
O Banco do Brasil é o primeiro interessado
em comprar a Nossa Caixa
Matuiti Mayezo/Folha Imagem |
Protesto contra demissões: banco paulista tem 16 500 funcionários |
Até meados da década de 90, o Brasil tinha 34 bancos públicos estaduais. Muitos deles serviam apenas como cabide de emprego ou para financiar a gastança dos governadores. A maior parte desses ralos de dinheiro que inviabilizavam o combate à inflação foi privatizada ou extinta. Para um governador estritamente focado nas prioridades básicas da administração do estado, gerir com eficiência um banco público tornou-se um fardo. Exclusivamente por essa ótica, é positiva a oferta feita pelo Banco do Brasil (BB) para a compra da Nossa Caixa, o banco estatal de São Paulo. Por iniciativa de Antônio Lima Neto, presidente do Banco do Brasil, uma instituição federal, as negociações começaram há um mês e tornaram-se públicas na semana passada. Os grandes atrativos da Nossa Caixa são os 15 bilhões de reais que a instituição tem em depósitos judiciais e a exclusividade no pagamento do quase 1 milhão de funcionários públicos de São Paulo – uma folha de cerca de 2 bilhões de reais mensais. Por imposição legal, somente bancos oficiais podem receber depósitos judiciais. A folha de pagamento de funcionários públicos, porém, pode ser administrada tanto por bancos privados quanto públicos.
Isso significa que os bancões privados – Bradesco, Itaú ou Santander, por exemplo – podem entrar na disputa para comprar a Nossa Caixa mesmo sabendo que não terão acesso aos 15 bilhões em depósitos judiciais? A resposta natural deveria ser sim. Mas as negociações parecem estar sendo direcionadas para que apenas o Banco do Brasil possa fazer uma oferta, deixando a iniciativa privada fora de um eventual leilão pela Nossa Caixa. A incorporação só ocorrerá depois de aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado. A avaliação de fontes do governo paulista é que a venda do banco do estado para uma organização privada, ou seja, sua privatização, não teria chance de aprovação pelos deputados estaduais.
Os bancos privados querem entrar no jogo. "Se o governo pretende vender a Nossa Caixa, entendo que a melhor forma seria um leilão, pois assim estaria garantido, de forma transparente, o melhor preço para o estado de São Paulo", disse Roberto Setúbal, presidente do Itaú. O presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, reforçou: "As regras de mercado devem prevalecer, com a realização de uma licitação pública. Seria mais legítimo". Há ainda um longo caminho até o desfecho do negócio. O governador de São Paulo, José Serra, decidiu encomendar a uma auditoria o levantamento do preço de mercado da Nossa Caixa e, com base nesse trabalho, o governo fixará um valor mínimo. Disse José Serra: "Claro que vamos estudar a oferta do Banco do Brasil, mas a possibilidade de vendermos a Nossa Caixa por menos do que ela vale no mercado é nula".