Panorama Econômico |
O Globo |
23/5/2008 |
O ministro Roberto Lavagna deu jeito na Argentina quando todas as previsões eram pessimistas. Hoje, fora do poder, diz que o país vive uma crise política artificial, criada pelo governo e que a inflação está em 25%. Criticou também a opção brasileira, que levou ao que ele define como sobrevalorização do real e a uma política industrial igual à adotada pelo ex-ministro Cavallo no final da convertibilidade. O maior erro do governo argentino, desde que ele deixou o Ministério da Economia, no fim de 2005, foi a queda forte do superávit fiscal primário. - Era de 4,5% e caiu para 2%, os gastos sobem 50% ao ano, e isso é que alimentou a volta da inflação. Sobre o conflito atual, Lavagna diz que é uma crise inteiramente criada pelo governo, que decidiu entrar em confronto com os produtores rurais. - O governo cedeu à tentação de tirar 1,8% do PIB do campo, com as retenções; há impostos que chegam a 95%. Isso provocou uma reação política. Aumentar o superávit fiscal é uma necessidade, mas eles escolheram um mau caminho. Segundo o ex-ministro, o agravante é que há um vazio político no país. O governo se desviou do modelo que vinha dando certo, e a oposição não soube dar uma resposta racional. Ele acha que pode haver algum aumento de impostos, desde que o governo corte também os gastos. O superávit que foi comemorado esta semana lá foi resultado apenas de uma mudança de metodologia no cálculo das aposentadorias. Lavagna esteve no Brasil para uma conferência e conversou comigo e com Débora por uma hora sobre a situação econômica da Argentina, que está com disparada do dólar (houve até um episódio de corrida contra o peso), uma inflação oficial de 9% (número no qual ninguém acredita), e confronto do governo com os produtores rurais e com a imprensa. - São decisões políticas equivocadas. Na Argentina, há hoje um problema econômico, que é a inflação, mas não há uma crise econômica. Há uma crise política criada por atitudes políticas de confronto. Lavagna contou que o conflito com o campo estourou no momento do plantio do trigo, e isso pode provocar um resultado perigoso. Disse ainda que, no ano passado, os produtores de carne e leite mataram matrizes e portanto o rebanho precisará de um tempo para se recuperar. - Mataram para aumentar o plantio de soja. Não há nada mais rentável que soja. Lavagna garante que a Argentina não é a Venezuela. - Grande parte do empresariado industrial e de serviços apóia o governo e o modelo econômico. Acham que há erros, mas apóiam. Para o ex-ministro, outros países da América Latina também têm cometido erros. - Em alguns, a inflação está subindo por causa da alta de preços dos alimentos, e o banco central está aumentando os juros para manter a taxa na meta fixada pela política de metas de inflação. Isso vai reduzir o nível de atividade. Esse é o risco que correm hoje Chile, México, Peru, Colômbia e Brasil. A Argentina conseguiu, em 2002, superar a crise, mas evitou a queda grande do dólar. Ele disse que isso foi conseguido por uma estratégia deliberada de evitar a valorização excessiva da moeda nacional. - Fizemos um grande superávit fiscal e, com isso, compramos reservas. Era o Tesouro que comprava com esse superávit. Hoje o governo baixou o superávit e quem compra os dólares é o Banco Central, com emissão de moeda. Dessa forma, temos uma política fiscal e uma política monetária expansionistas. O dólar subiu agora, mas foi menos que a inflação. Na prática, está havendo uma valorização do peso. Lavagna acredita que essa valorização da moeda local deve ser evitada. Quando perguntei a sua opinião sobre a política industrial, deu uma resposta surpreendente. Contou que, no final da convertibilidade, quando o peso estava sobrevalorizado, o então ministro Cavallo fez exatamente isso: - Ele concedeu uma série de subsídios e redução de impostos para compensar os exportadores pelo câmbio e chamou de política de competitividade. A primeira coisa que fiz foi eliminar tudo aquilo. A melhor política industrial é manter corretos todos os dados macroeconômicos. Se estiverem corretos, os exportadores poderão competir. No máximo, pode-se escolher um ou outro setor da indústria, ou de serviços, que por alguma razão se queira apoiar. Eu apoiei o setor de software, biotecnologia e biocombustíveis. O ex-ministro disse que hoje o país tem uma enorme demanda por energia e ninguém quer investir porque não há segurança de rentabilidade. Ele garantiu que tentou consertar esse congelamento tarifário, mas não pôde. No começo, pela Justiça, e, depois, porque o assunto saiu da alçada do ministério que comandava. Segundo ele, a dívida pública argentina caiu como proporção do PIB, mas está em 55%. - Nossos países têm que manter a dívida em 30%. Quase ao fim da entrevista, Lavagna comentou que a América Latina foi a única região a rezar inteiramente pela cartilha neoliberal. - No final dos anos 90, fui fazer uma palestra no Sudeste Asiático e falei bastante no Consenso de Washington. No fim da palestra, um dos organizadores me chamou ao canto, respeitosamente, e perguntou o que era o Consenso de Washington. Eu me espantei, porque para nós era como o Pai Nosso. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, maio 23, 2008
Míriam Leitão - Crise argentina
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