Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 23, 2008

Villas-Bôas Corrêa Falta governo no Planalto




Jornal do Brasil
23/5/2008

No primeiro tempo do segundo mandato do presidente Lula, uma das gabolices dos improvisos e declarações de todos os dias era a afirmação categórica, com a ênfase das sentenças para a eternidade, que "a inflação acabou, não se fala mais em inflação".

Meses depois, na virada azarenta deste meado de ano, a velha, temida e odiada inflação assusta os sábios economistas e mostra as garras no desfile de índices assustadores: o IG-M deste maio atípico ameaça chegar a 1,80%, empurrando o acumulado de 12 meses para o buraco de 12%. O fantasma da inflação ronda os gabinetes do Palácio do Planalto, na dança das bruxas soltas.

O forró das feiticeiras entoa o refrão do caiporismo nos resultados da estatística fechada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que 40 milhões de jovens, quase metade da população brasileira entre 15 e 24 anos está desempregada. Do total, 12,5 milhões não concluíram o curso fundamental e 1,4 milhão forma o bloco dos analfabetos. O desemprego da faixa pesquisada é 3,5 maior entre adultos com mais de 24 anos e a proporção dispara para os quintos do inferno, saltando de 2,8 em 1990 para 2,9 em 1995.

No Congresso, a maioria montada com os métodos aperfeiçoados na era lulista do mensalão para a compra do passe de oposicionistas disponíveis no mercado, do caixa 2 para o financiamento das muitas campanhas, das ambulâncias superfaturadas e demais habilidades do governo recordistas em CPIs que não deram em nada, a bagunça baixou à sarjeta do cinismo.

Como não há dinheiro que chegue para a gastança oficial e o governo não preza a palavra empenhada, arma-se a arapuca para ressuscitar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) mais conhecida na intimidade como o imposto do cheque – que Lula e o PT sempre malsinaram nos tempos de oposição, desde a Constituinte.

Mas com dengues de comover, o governo não quer se expor em público em trajes menores, participando da manobra. E o fandango vai sendo tocado com o presidente lavando as mãos e os deputados metendo os gadanhos no acordo para ressuscitar o imposto do cheque com a alíquota de 0,1 % para acudir a saúde, exposta na indigência das filas do SUS, com velhos, crianças, grávidas varando a madrugada para mendigar uma vaga nos hospitais e postos de saúde superlotados.

Ora, dinheiro não falta; o que falta é governo. E esta é uma evidência que se denuncia na sucessão de lambanças de cada dia.

O escândalo do vazamento do dossiê dos gastos com o cartão corporativo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua esposa, dona Ruth, dá cambalhotas na CPI na gandaia do despudor. O ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires credenciou-se a ganhar o troféu de tartufo do ano com a versão retificada da sua participação na trama para a entrega do banco de dados ao assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), André Fernandes. Tudo não passou de um erro de digitação. Explica: "Minha intenção era apenas anexar o arquivo "hoje". Se anexei a planilha "excel" ( a do dossiê) não houve dolo ou má fé, foi por descuido, erro humano".

Para quem usa o computador com um mínimo de facilidade a desculpa é um escárnio.

O presidente Lula necessita trocar algumas peças do seu gabinete. Antes que a ministra-candidata Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil seja convocada pela CPI dos Cartões para explicar o desvio do dossiê, com a lista dos envolvidos chegando à porta do seu gabinete.

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