Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 01, 2008

Alberto Tamer PIB cresce, juro cai, e recessão foi adiada

O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos não afundou, como tantos afirmavam. Cresceu pouco, só 0,6%, mas cresceu. O Fed, banco central americano está ajudando. Ontem, fez o que havia indicado que faria: cortou o juro básico em 0,25 ponto para estimular a demanda e desafogar os endividados. É o sétimo corte sucessivo, desde setembro do ano passado. Com mais essa decisão, o Fed confirma que dá prioridade ao crescimento e não ao combate frontal à inflação. Uma atitude corajosa e polêmica, mas acertada.

E A RECESSÃO NÃO VEIO

E falando em recessão, a outra grande notícia do dia foi que o PIB americano, no primeiro trimestre, não recuou. Para desaponta mento dos profetas do apocalipse, a economia gatinha, anda de quatro, mas não para trás. Deve-se isso em parte ao aumento significativo das exportações, 5,5%, que representam 20% do crescimento.

Para esses profetas que apregoavam na semana passada para nossa correspondente em Washington, Patricia Campos Mello, que os EUA já estavam em recessão, a saída ontem foi dizer que, afinal, esse resultadozinho é "anêmico". Foi essa a expressão que muitos usaram.

Outros, meio acanhados, afirmam agora que uma recessão ainda é "provável". Como tecnicamente se define recessão como o recuo do PIB em dois trimestres consecutivos, pode-se dizer que ela só deverá vir, se vier, no quarto trimestre do ano.Para os terroristas de plantão, municiados pelas telas de seus computadores, ainda poderemos ter um Natal de recessão.

NÃO É UM BOM RESULTADO

Evidentemente que ninguém está satisfeito com esse resultado, pois, como tem insistido a coluna há pelo menos quatro meses, recessão ou não, a economia americana está em forte desaceleração, com reflexos negativos em todo o mundo.

Esse 0,6% do trimestre mostra fragilidades perigosas. Esse crescimento se deve em parte ao aumento dos estoques - sinal de que há menos demanda - e das exportações, que cresceram 5.5%. É delicado porque o comércio mundial já registra sinais de franco arrefecimento, como informou ontem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Outro dado preocupante é o enfraquecimento do mercado de trabalho.

Tudo isso projeta um cenário ainda turvo, não sombrio, nos próximos meses, decididamente não o que os profetas do apocalipse apregoavam até agora. Um deles é John Ryding, economista-chefe do Bear Stearns. "O fato de que houve tecnicamente crescimento do PIB de nenhum modo altera nossa visão de que a economia está em recessão", declara ele, sem corar. Mas o que é então?

MAIS DINHEIRO AJUDA

O governo acredita que o cenário deve melhorar, pois os consumidores americanos começaram a receber, esta semana, os cheques de devolução de imposto: de US$ 600 a US$ 1.200 serão entregues pelo correio às familias americanas. São mais de US$ 160 bilhões de reforço no orçamento familiar para gastar,pagar dívida e solver prestações de hipoteca atrasadas. É dinheiro entrando rapidamente em circulação.

MAIS AJUDA

Há pressão para que saia logo o plano para ajudar os mutuários insolventes a refazer suas dívidas hipotecárias. Alguns Estados americanos já estão agindo, mas a Casa Branca informou que vai esperar o resultado dessa injeção de recursos, para depois decidir o que fazer. Os planos já estão sendo elaborados.

TUDO BEM? NÃO

O que temos aí é um cenário bem mais favorável do que há um mês. O sistema financeiro resiste e absorve bem perdas que passam de US$ 500 bilhões e os balanços negativos de grandes empresas estão afetando menos as bolsas. A coluna reafirma o que sempre vem dizendo: não há dúvida de que estamos em meio a uma forte retração da economia mundial, mas ela reage bem a mais este desafio cíclico, com o apoio inteligente dos bancos centrais. Mais alguns meses e a crise deverá estar diluída. Antes, porém, haverá mais choques, mais sustos, mas sem tragédia. Sem o 1929 que alguns acalentam e anunciam.

FOME, ESTA É A TRAGÉDIA

Este sim é o desafio para o qual, pela primeira vez, o mundo parece estar acordando. E a fome está encontrando um opositor na pessoa do secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki- Moon. Ele, corajoso, denunciou os países desenvolvidos de não terem dado ouvido ao alerta da nova ONU. "Sabáamos que chegaríamos a este ponto e alertamos a todos. Mas não foram tomadas decisões na hora certa, agora as pessoas morrem e até governos são derrubados."

Ficam acusando o etanol de cana, que não é a causa do encarecimento dos preços dos alimentos: a culpa é do etanol de milho e do petróleo a US$ 120. Essa polêmica inútil só serve para distrair a atenção do problema real, a fome, que aí está insultando a humanidade. Para ele, é hora de parar de falar e agir com urgência.

MAS, COMO?

A ONU sabe. Tem um plano que ataca com mais urgência os efeitos e, em seguida, as causas. Urgência: a ONU precisa dos US$ 2,9 bilhões prometidos. Além disso, são necessários mais US$ 775 milhões para distribuir comida nos 32 paises assolados pela fome. Mais recursos porque o preço dos alimentos aumentaram mais de50%, 75% no caso do arroz.

Já o plano de emergência é aumentar o financiamento a custo zero e ensinar as populações pobres a plantar, colher, se alimentar, vender, para obter renda que as libertem em parte da dependência extrema do cultivo familiar. Dá para fazer? Sim, afirm Ban Ki-Moon. Mas, pelo amor de Deus, não nos faltem com os recursos prometidos, que são pouco para os países que têm tanto, e muito para os que mourejam na fome e na miséria.

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