Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 06, 2008

Grave ameaça

O GLOBO EDITORIAL
É odiosa qualquer manifestação de racismo, acertadamente punida por legislação específica. Tão mais condenável se torna o crime quando consideramos ser o Brasil uma nação miscigenada, em que não pode haver espaço para choques de cunho racial. Mas desgraçadamente partem do próprio governo iniciativas que tendem a criar esse tipo de tensão.

Ao importar modelos aplicados em sociedades diferentes da nossa, como as cotas na Universidade — contestadas na Justiça nos Estados Unidos, país-símbolo dessas ações ditas afirmativas —, Brasília sucumbiu a grupos de pressão organizados que se batem por políticas públicas racialistas, uma distorção de perigosas conseqüências.

Tenta-se interpretar a problemática social brasileira pelo ângulo das raças, um conceito rejeitado pela própria ciência. Por esse tipo de visão, o negro tem escolaridade relativamente mais baixa e se situa nos estratos de renda menos beneficiados não por ser pobre, mas por ser negro.

A partir dessa míope interpretação, propõe-se uma série de ações, todas elas desafiadoras do princípio constitucional da igualdade de tratamento entre todos os cidadãos brasileiros.

As cotas raciais para a Universidade não só discriminam alunos pela cor da pele, mas também cometem uma injustiça com os pobres que não são negros, e por isso não contam com a ajuda desses grupos de pressão. Além disso, ao deixar em plano secundário o mérito acadêmico, essa política conspira a favor da perpetuação de um dramático problema, o da baixa qualidade do ensino.

Com isso, coloca-se um grande ponto de interrogação sobre a capacidade que teremos de contar com profissionais à altura dos desafios num mundo inexoravelmente globalizado.

A aplicação dessas políticas reproduzirá no Brasil choques existentes em sociedades com um histórico muito diferente do nosso, em que ainda há o convívio pacífico de várias raízes étnicas, um patrimônio especial hoje sob grave ameaça.

E que se tornará irreversível caso o Congresso aprove o estatuto dito da igualdade racial.

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