O governo acaba de indicar o ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz (PC do B) para a Anvisa, num momento em que a Anac está no olho do furacão e já se discutem seriamente o papel e até a necessidade das próprias agências. É assim que Lula destrói a credibilidade das agências reguladoras.
Entre toneladas de críticas à Anac (de aviação civil), a principal está na origem: a politização e a partidarização de um órgão que deveria ser essencialmente técnico e ocupado por técnicos. O presidente da Anac é amigo do ministro fulano, a diretora mais poderosa foi indicada pelo ex-ministro sicrano e vai por aí afora. Entender de aviação civil, que é bom, necas. Há quem se pergunte se Milton Zuanazzi, o presidente, sabe distinguir um Boeing de um Airbus.
E é exatamente isso, sem tirar nem por, que Lula está fazendo ao arranjar uma "boquinha" para Agnelo na Anvisa (de vigilância sanitária), só porque ele era ministro, saiu para concorrer às eleições, perdeu e está sem mandato, precisando da mão amiga do presidente para guiá-lo para um cargo público.
Sem nenhum demérito à pessoa ou ao político Agnelo, o fato é que ele, ou bem entende de esportes, já que foi ministro da Pasta, ou bem entende de vigilância sanitária, já que virou diretor da Anvisa. Será possível? Improvável.
O governo alega que ele é médico cirurgião. Ah. Bem. Então, enquanto cirurgião, ele era expert em esportes. E agora, enquanto cirurgião e expert em esportes, ele vai controlar, fiscalizar e eventualmente punir na área de vigilância sanitária. O que um cirurgião --que, aliás, não exerce a medicina há tempos-- pode entender dessa área tão técnica e tão fundamental no Brasil?
Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada há dez dias, o ex-presidente da Infraero, brigadeiro J. Carlos Pereira, criticou a Anac e fez uma comparação: "Um diretor da Anvisa não precisa ser expert em dengue e tuberculose, mas precisa pelo menos saber a diferença entre as duas". Tenho cá minhas dúvidas se Agnelo sabe...
O fato é que Lula continua sem saber de nada, sem ver nada, sem ouvir nada. Só isso pode justificar a nomeação de Agnelo em meio a tantas acusações de politização das agências, especialmente da Anac. Ou, então, é aquela velha história: Lula se sente acima das críticas, acha que pode fazer o que quiser e os perplexos que se danem.
O resultado, no caso das áreas técnicas, pode ser dramático. Que o digam as vítimas do apagão aéreo e dos aviões sem fiscalização e sem controle que as nossas companhias aéreas põem todos os dias no ar. Eles são o melhor exemplo da falta que uma boa agência faz. Um agência séria, não um cabide de empregos para amigos e correligionários.