Doce típico de casamentos, o bem-casado
agora freqüenta todo tipo de comemoração
Sandra Brasil
Fotos Pedro Rubens |
De docinho simples, para encerrar festa de casamento no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, o bem-casado ganhou o Brasil: não há comemoração hoje em dia a que ele não compareça, embalado nos mais diversos temas, de nascimentos (o "bem-nascido" é lembrancinha da maternidade) a aniversários (o "bem-vivido"), passando por batizado, inauguração de loja, lançamento de livro, desfile de moda, chá-de-panela, festa de empresa (o "bem-casado com você"), até, paradoxalmente, celebração de divórcio (o "bem-separado"). A receita, provavelmente de origem portuguesa, é praticamente a mesma em toda parte: dois bolinhos de pão-de-ló, recheio cremoso (de doce de leite, em São Paulo; de ovos, no Rio e no Sul) e calda de açúcar. A unidade embrulhada em papel crepom com laço de fita custa, em média, 1,70 real, podendo chegar a 25 reais quando acomodada em porta-jóias de prata. E que ninguém conte um para cada convidado – é de praxe levar vários para casa. "É para comer no dia seguinte e lembrar da festa", justifica a consultora de moda e etiqueta Gloria Kalil, que é fã e leva quatro, "dois na bolsa e dois na mão". "O bem-casado virou doce para qualquer ocasião", resume Silvia Chuairi, da Mariza Doces, de São Paulo, que dobrou o número de funcionários para dar conta do aumento e da diversificação da demanda. A empresária Claudete Bonini serve a guloseima no leilão de cavalos árabes que faz uma vez por ano em Campos do Jordão. Em Goiânia, os docinhos marcam presença inclusive em formaturas. "Levou três anos para os goianos adotarem o bem-casado. Hoje, não falta em festa nenhuma", conta a doceira local Rosa Alzira Mendonça. Mais recentemente, começou a invadir as festas de bar mitzvá, na comunidade judaica. "Uma vez por semana um rabino passa o dia na nossa cozinha, para orientar na preparação", relata a doceira Silvia, que já teve encomenda do produto até para velório: "A família, de origem oriental, disse que fazia parte da tradição oferecer algo de que a pessoa gostava". Em junho, Conceição Amaral, dona da celebrada doceria paulista Conceição Bem-Casados, mandou caixas do doce para Cannes, na França, onde foi servido durante um festival de publicidade. "De cada dez encomendas, duas são para fora", diz Conceição, que faz bem-casados há quarenta anos. Mulher do embaixador da Espanha, Ricardo Peidró, a sergipana Nize morou mais de vinte anos no exterior e é testemunha ocular da multiplicação dos bem-casados. "Quando deixei o Brasil, nem conhecia o doce. Desde que voltei, há dois anos, ele está em toda parte." Ciente das mais de 140 calorias embutidas em cada um, Nize conclui, suspirando: "Devia ser proibido por lei, de tão bom que é".
O docinho é sempre o mesmo, o que muda é a embalagem. Acomodado em porta-jóias de prata (à dir.), custa 25 reais cada um |