PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
17/8/2007 |
Não há porto seguro quando os mercados financeiros se interconectam. O contágio se dá nos bons e maus momentos. Ontem foi num mau momento. Toda a Ásia caiu, a Europa ficou negativa, os Estados Unidos operaram nos boatos, e muita gente vendeu no Brasil para cobrir prejuízos. A conexão é conhecida, mas o sobe-e-desce nesta quinta-feira foi vertiginoso. Nos últimos anos, o contágio internacional nos puxou; ontem nos derrubou. O dia foi particularmente difícil para todos os mercados, indicando que quedas e recuperações continuarão ao sabor dos acontecimentos. O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, mesmo com toda a sua experiência de crise, achou que o dia foi intenso demais: - Em relação a outras crises, o mercado cresceu, tem mais gente, mais conexão entre mercados; há mais produtos, mais sofisticação. Tudo ficou maior. O UBS tem um indicador de tensão que, nesta quinta-feira, registrava um nível maior que na quebra do LTCM; e que na queda das Torres Gêmeas. A diferença, diz ele, é que o Brasil está efetivamente muito melhor que em outras crises. Nos últimos anos, o país se livrou de vários fatores de risco. A dívida externa pública despencou; as reservas multiplicaram-se por dez em cinco anos; várias dúvidas sobre a política monetária e cambial foram dissipadas. Isso, embora não garanta uma blindagem, deve ajudar bastante caso agora se instaure uma temporada mais difícil. O problema é que, quando a liquidez fica escassa, o medo substitui a ganância dos mercados, a aversão ao risco sobe, todos os defeitos que os países e as economias têm passam a ser vistos. Por isso, se o clima de crise continuar, o mercado começará a contabilizar o que o Brasil não fez. O economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, acredita que não se pode falar de crise ainda, e que o que está havendo é um episódio que vai se refletir por várias semanas em volatilidade nos mercados. Mesmo com essa visão mais otimista que outros analistas, acha que o Brasil perdeu tempo: - O melhor momento da economia internacional passou. O aumento dos gastos públicos brasileiros é insustentável e se baseia num aumento da arrecadação também insustentável. Alexandre Schwartsman, ex-diretor internacional do Banco Central no governo Lula, admite que esse é o ponto de fragilidade: - Nós trabalhamos no BC desde o primeiro governo Lula para reduzir as fragilidades. Esse foi o objetivo da acumulação de reservas. Mas a questão fiscal continuou sem ser resolvida. Havia o mito de que o problema fiscal brasileiro eram os juros altos que comprimiam os outros gastos. Não é isso, os gastos aumentaram mesmo. Entrevistei os dois no programa "Espaço Aberto", da Globonews. A visão que eles sustentaram de que o mundo não vive ainda uma crise, mas, sim, está passando por um episódio forte, de conseqüências em vários mercados, é reconfortante. Pastore alerta que, por várias semanas, haverá dias de melhora e de piora, mas ainda não é crise. - Crise só haverá se quebrar um bancão - disse. Por enquanto, alguns bancos estão apenas perdendo dinheiro - outros ganhando, dependendo da posição -, mas redução de ganhos não tem maiores conseqüências. Pastore acha que a economia americana já estava num processo de redução do nível de atividade, e que isso pode ocorrer em outros países. - A China, em algum momento, vai passar por uma desaceleração do ritmo de crescimento. A inflação está subindo - argumenta. Com menor crescimento no mundo, haverá vários reflexos. As commodities deverão ter um preço menor, reduzindo parte das vantagens do Brasil. Elas já caíram, mas não muito. Este cenário é até benigno perto de outros desenhados por economistas mais pessimistas. De qualquer forma, todos admitem que ainda não se sabe o tamanho da crise ou da instabilidade financeira atual. Além disso, se desconhece quem mais está com ativos podres. O quadro é de incerteza e, em horas assim, os defeitos aparecem. - Quando o mercado está com óculos cor-de-rosa, ele vê tudo bonito, mas, quando tira esses óculos, os problemas ficam mais visíveis - admite Pastore. Um desses problemas que ficarão visíveis, acredita Schwartsman, é a falta de investimento brasileiro em infra-estrutura. Ele acha que, apesar do sucesso da privatização da telefonia, por exemplo, o governo não continuou no mesmo rumo: - Ele não tinha recursos para investir; o setor privado tinha. O governo não tomou decisão. Só agora, depois de cinco anos, saiu a concessão para rodovias. Tomara que aconteça. Um governo que gasta demais, investe de menos e não tem agilidade regulatória para criar espaço para investimento privado é o calcanhar-de-aquiles do Brasil nestes momentos de tremores globais. Luiz Carlos Mendonça de Barros acha que a situação vai se acalmar nas próximas semanas, apesar do que chama de "irresponsabilidade na concessão de empréstimos". Mas ele está convencido de que o mundo sairá desta crescendo menos. - Esta crise é diferente das outras que enfrentamos no passado. Acontece no centro da economia global. É o mercado financeiro americano o centro da crise. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, agosto 17, 2007
Míriam Leitão - Dia da gangorra
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
agosto
(461)
- Clipping de 31 DE AGOSTO
- Míriam Leitão - Fatos e efeitos
- Merval Pereira - O mensageiro
- Luiz Garcia - Crime, castigo & prevenção
- Eliane Cantanhede - Teatro do absurdo
- Dora Kramer - De togas muito justas
- Pressão não mudou voto, diz Lewandowski
- Êxito no fracasso Por Sérgio Costa
- Lewndowski teve um voto mutante
- O Senado de joelhos
- Burrice ou má-fé?
- Clipping de 30 de agosto
- "TENDÊNCIA ERA AMACIAR PARA DIRCEU", DIZ MINISTRO ...
- LULA E A MÍDIA Por Alberto Dines
- Dora Kramer - O Senado está nu
- Clóvis Rossi - De cães, elites e "povo"
- Eliane Cantanhede - Vários mundos, dois governos
- Merval Pereira - O futuro do PT
- Míriam Leitão - Os próximos passos
- Lewandowski diz que a tendência era “amaciar para ...
- Erroll Garner in Rome 1972: For once in my life
- Lucia Hippolito,A democracia está viva no Brasil
- ELIANE CANTANHÊDE Alma lavada
- Clipping de 29 de agosto
- Lula quer desvendar o truque
- Congresso do PT - em má hora
- Dora Kramer - O vigor dos fatos
- Clóvis Rossi - Os réus que faltaram
- Míriam Leitão - A moral do caju
- Merval Pereira - Nova chance
- A casa pelo corredor- Roberto DaMatta
- ELIO GASPARI
- Erroll Garner - Jazz 625 - Laura
- Além de não punir, PT ainda festeja seus acusados
- Clipping de 28 de agosto
- Arnaldo Jabor
- Luiz Garcia - Greves & mortes
- Míriam Leitão - O processo
- Merval Pereira - Sem anistia
- O presidente ?tranqüilo?
- Palavra de honra DORA KRAMER
- MAIS PRAGMATISMO NO MERCOSUL
- O dia em que Janene, agora processado pelo STF, co...
- Clipping de 27 de agosto
- FHC diz que PT, não povo, vai pedir reeleição de L...
- Oposição desconfia da promessa de Lula
- Eros Grau:Juiz não tem direito de antecipar voto'
- Antonio Sepulveda,Dialeto único
- Uma acusação "injusta"
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS
- Miriam Leitão
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR
- ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI
- Maior desafio do País é escolher bons dirigentes
- Mailson da Nóbrega
- Alberto Tamer
- Entrevista do economista José Roberto Mendonça de ...
- A herança bendita
- Celso Ming
- SONIA RACY
- João Ubaldo Ribeiro
- DANIEL PISA
- DORA KRAMER O foro não deu privilégio
- A entrevista de Lula no Estadão deste domingo
- Villas-Bôas Corrêa : O populismo das margaridas
- Eleição de 2010 não depende de crise, diz Serra
- Miriam Leitão Efeito no Brasil
- Celso Ming
- Dora Kramer Suprema informalidade
- FERNANDO GABEIRA
- A força do mensalão
- CLÓVIS ROSSI
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: João Doria Jr.
- Lya Luft Ignorância e preconceito
- MILLÔR
- André Petry
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- O julgamento do mensalão
- Fotógrafo flagra diálogo de ministros do Supremo
- A Câmara vai instalar uma CPI para apurar o grampo
- Um em cada quatro brasileiros está no programa
- O pacote do governo contra o crime decepciona
- Quem é a enrolada Denise Abreu, da Anac
- O Conselho de Ética vai pedir a cassação do senador
- Atentado à liberdade de imprensa
- Desmando em fábricas ocupadas por radicais do PT
- 100 dias de Nicolas Sarkozy na Presidência
- Estrelas, constelações e galáxias no Google Sky
- A vida ao vivo na rede mundial
- Os novos aviões militares que voam sem piloto
- A expansão global dos cassinos
- Angioplastia e medicamentos evitam cirurgias
- Prefeituras européias investem na bicicleta
- O massacre dos gorilas no Congo
- Cidade dos Homens, de Paulo Morelli
- Possuídos, de William Friedkin
-
▼
agosto
(461)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA