As características de um presidente da República eficaz, definidas em um trabalho do professor Fred I.
Greenstein, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, especialista em estudos de liderança, transportadas para a realidade brasileira mostram que o presidente Lula, na avaliação do cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getúlio Vargas no Rio, é excelente na comunicação pública, é “um desastre” na capacidade organizacional, e tem uma habilidade política inegável, embora não a use com disciplina nem seja persistente.
A capacidade de unir sob uma mesma coalizão partidos e políticos tão heterogêneos seria uma demonstração dessa habilidade, e, no entanto, Lula não consegue usar essa base para avançar nas propostas de reformulação institucional.
Sua habilidade política acabaria se transformando em mero instrumento de manutenção do poder. Nesse ponto, entra a quarta característica de um “presidente eficaz”, que seria a v i sã o prog ramátic a. Para o professor Octavio Amorim Neto, Lula nunca teve essa visão política como uma marca de sua atuação. “Ele é mais um símbolo”.
Lula marca seu governo pela política de redistribuição de renda e a inclusão social, mas fica na superfície, sem promover mudanças estruturais.
Mesmo assim, algumas medidas de inclusão social como o Bolsa Família e a Universidade para Todos, são programas que indicam uma visão programática de inclusão das minorias, ou, como define seu ministro da Justiça Tarso Genro, a “plebeização da política”, mesmo que se discorde deles.
O cientista político Octavio Amorim Neto, reconhecendo essa característica do governo Lula, acha que, paradoxalmente, Ronald Reagan é um dos presidentes americanos mais parecidos com Lula. “Era um excelente comunicador, delegava muito, não se interessava por questões administrativas e de políticas públicas, mas tinha duas visões importantes: a confrontação com a União Soviética, a guerrafria, e depois a conciliação com o Gorbatchov. E o lado neoliberal, a redução do Estado, foi muito coerente”.
Lula tem visões diferentes, mas que seguem um projeto coerente na política externa, por exemplo, de integração regional, tentando equilibrar integração regional com a proeminência do Brasil no mundo. Mas também é ambíguo quando se aproxima pragmaticamente dos Estados Unidos, ou tem uma posição contra a privatização, defendendo o Estado forte, mas ao mesmo tempo acena com maneiras indiretas de privatização, como as PPPs ou a abertura de capital da Infraero, diante do caos aéreo.
Essa ambigüidade afeta uma outra característica do “presidente efetivo”, que é o estilo cognitivo, a maneira pela qual o presidente processa a enxurrada de informações e conselhos que chegam até ele. Amorim Neto diz que uma característica de Lula processar os fatos é negá-los.
“A saída, que foi bem sucedida no mensalão, ele agora tenta repetir dizendo que não sabia da crise aérea”.
Segundo professor de Princeton, um presidente americano que possuía um estilo cognitivo que o levava a atingir seus objetivos foi Richard Nixon, ao contrário de Harry Truman e Ronald Reagan, que tinham limitações cognitivas.
Truman tinha um problema que é comum a Lula: segundo Greenstein, suas leituras acríticas de trabalhos de história popular o levavam a ser susceptível a falsas analogias históricas, assim como Lula, que não se cansa de dizer que “nunca na história desse país” se fez tanto quanto em seu governo.
Mas Greenstein lembra que o fato de que os dois presidentes americanos conseguiram atingir objetivos políticos importantes mostra que inteligência e informação medidas por definições clássicas não são as únicas causas de uma eficiência presidencial. A intuição muitas vezes leva a resultados positivos, o que, aliás, Lula gosta de ressaltar ao dizer que tem conseguido fazer muito mais do que muitos presidentes com diplomas universitários.
Essa obsessão de Lula em valorizar sua falta de escolaridade em benefício da experiência de vida, direta ou indiretamente se referindo a seu antecessor, o intelectual Fernando Henrique Cardoso, nos leva ao último dos dons de um “presidente efetivo”, que é a inteligência emocional.
Octavio Amorim Neto diz que Lula “é muito vaidoso, e fica abalado com as críticas”, sendo a evidência mais recente as vaias que sofreu na abertura do Pan no Rio e nas viagens recentes, que o fizeram desistir de viajar pelo país.
Ao mesmo tempo em que pode se colocar acima do bem e do mal, se auto-elogiando, “Lula tem um complexo de inferioridade óbvio”, diz Amorim Neto, que o faz se deixar levar pelos críticos, “e um político maduro não faz isso”. Na definição do professor Greenstein, a inteligência emocional é a capacidade do presidente de controlar suas emoções para tornálas impulsos construtivos, em vez de ser dominado por elas, deixando que minem sua atuação pública.
Lula tem dado sinais de que pode ir da depressão à euforia com facilidade, mas ao mesmo tempo mostrouse capaz de superar a crise do mensalão, quando quase desistiu de se recandidatar, para conseguir uma vitória expressiva no segundo turno da eleição de 2006. Greenstein classifica Johnson, Nixon, Carter e Clinton como “emocionalmente deficientes”, enquanto Richard Nixon é tido como “o mais avariado emocionalmente”.
Sua capacidade de ter raiva e de desconfiar eram de “proporções shakespearianas”, define Greesntein. Não há relatos consistentes de que Lula tenha tamanha capacidade de ter raiva, embora seja conhecida sua maneira irascível em momentos de crise. A figura do “Lulinha Paz e Amor”, criada pelo marqueteiro Duda Mendonça serve para atenuar esse traço, mas a capacidade de aceitar “teorias conspiratórias” pode ter as mesmas “proporções shakespearianas”.
Entrevista:O Estado inteligente
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