Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 11, 2007

GLOBO Entrevista Carlos Langoni

O Brasil está blindado, mas o BC pode entrar. O país pegará o rescaldo da crise'

Economista lembra intervenção na crise da dívida latino-americana, em 1983
ENTREVISTA
Carlos Langoni

Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), não vê surpresas nas ações dos principais bancos centrais do mundo. Não é a primeira vez que isso acontece, atesta ele. Ainda sim, o ex-presidente do Banco Central torce para que o mundo tenha uma aterrissagem suave, para não prejudicar o bom momento que vive o Brasil, que, este ano, deve ter um crescimento superior a 5%.

Bruno Rosa

O GLOBO: Como o senhor analisa a atual crise no mercado de ações e as intervenções dos bancos centrais dos países desenvolvidos pelo segundo dia consecutivo?

CARLOS LANGONI: Não há qualquer surpresa. No mundo globalizado, com a mobilidade do capital, os investidores são, em geral, de várias partes do planeta. Não existe mais o mercado local. Não é só americano que compra o crédito subprime.

É a face negra da globalização.

Qualquer crise afeta todo o mundo. É a nova realidade. Primeiro, foram as instituições americanas. Agora, as européias.

Antes, a volatilidade impactava apenas os preços dos papéis de alto risco. Durante esta semana, houve uma forte aversão a risco e o medo de que haja contaminação na economia real. O problema é que a desconfiança aumente entre os contribuintes, o que forçaria saques. Por isso, os bancos centrais entraram no mercado.

O objetivo é aumentar a confiança no sistema financeiro, permitindo que os bancos honrem seus compromissos.

É a primeira vez em que as autoridades monetárias injetam dinheiro ao mesmo tempo por dois dias seguidos?

LANGONI: Não. Vivemos algo semelhante na década de 80. Em 1983, a crise da dívida externa que atingiu a América Latina forçou os bancos centrais a entrarem no mercado, já que muitos bancos estavam com grandes exposições a papéis da região. Depois, em 1994, com a crise do México; em 1997, com os problemas na Ásia; e, em 1998, na Rússia, os bancos centrais entraram localmente para socorrer o sistema financeiro. Talvez, agora, seja uma ação maior, porque há uma crise de confiança no que diz respeito à liquidez bancária.

Por isso, é importante que os bancos centrais sejam independentes.

O Banco Central do Brasil também pode entrar no mercado caso a crise no crédito tome proporções maiores?

LANGONI: É difícil fazer essa avaliação. É cedo. O Brasil está blindado com a melhoria dos fundamentos macroeconômicos.

Mas o Banco Central pode entrar no mercado para dar liquidez. O risco-Brasil e o dólar estão estáveis. O Brasil vai pegar um rescaldo da crise, apesar de as empresas brasileiras terem registrado bons resultados. O brasileiro está cada vez mais tranqüilo. Vamos torcer para que o mundo tenha uma aterrissagem suave e não prejudique o bom momento do Brasil, que, este ano, deve crescer mais de 5%.

Arquivo do blog