O Estado de S. Paulo |
15/8/2007 |
Não é dizer que o ministro Nelson Jobim não tenha razão em reclamar do espaço exíguo para acomodar os mais nutridos e espichados nos aviões. Não é dizer também que não se deva discutir o papel da Agência Nacional de Aviação Civil, desprezar as escaramuças entre o ministro, a Anac e as companhias aéreas, debater a privatização dos aeroportos ou mesmo desconsiderar a importância de Jobim marcar a presença oficial que faltou em toda a crise aérea desde setembro do ano passado, vistoriando aeroportos, abraçando onças e envergando capacetes País afora. Tudo isso é muito bom, não faz mal e mantém na pauta um assunto que requer mesmo muita discussão. Agora, e a crise aérea propriamente dita, suas causas, efeitos e soluções? Parecem perdidos num cipoal de atalhos que ainda não levaram a lugar algum. Discute-se de tudo um pouco, num ambiente de muita atividade e pouca conseqüência. As propostas se sucedem, algumas em franco estado de discrepância (a construção do novo aeroporto em São Paulo, Jobim diz que não, Dilma Rousseff diz que sim), outras nascem, morrem antes que se consiga enxergar se têm consistência ou se foram meros balões de ensaio com objetivo desconhecido. A esse grupo pertence a “renúncia coletiva” da diretoria da Anac, numa versão disseminada a partir do Palácio do Planalto numa sexta-feira e desfeita no ar dois dias depois. Esse lufa-lufa não deixa de ter suas vantagens em comparação à inércia anterior, mas não confere segurança a quem ainda aguarda das autoridades do setor informações objetivas, com começo, meio e fim, sobre o que foi mesmo que aconteceu de setembro para cá e desorganizou o sistema de transporte aéreo. E mais: os atrasos, os cancelamentos, as falhas de equipamentos, as panes, os erros “humanos”, a falta de investimentos, a ausência de treinamento, a insuficiência de pessoal, as deficiências salariais, o controle civil ou militar e tudo o mais que durante esses longos e atormentados meses foi apresentado ora como causa, ora como efeito, ora como obstáculo intransponível, ora como conseqüência do “progresso” da economia, mas que infelicitou milhares e resultou em prejuízos de milhões - tudo isso está resolvido? Não se repetirá? E, numa hipótese otimista quase beirando a torcida, se não se repetir o caos, deve-se atribuir seu surgimento e seu desaparecimento a quais motivos? O leitor perdoe a quantidade de perguntas sem respostas, mas o cenário está assim mesmo, cheio de dúvidas e vazio de afirmações. Quem anda de avião não sabe se está seguro, por quanto tempo terá serviços razoavelmente organizados e desconhece também o destino da agenda em aberto desde o desastre de 17 de julho. A pauta mudou, recebeu o acréscimo de diversos temas, mas parece algo à deriva, carente de organização e objetividade. É um avanço a crise aérea ter ganhado visibilidade e opulência no debate. Em compensação, perdeu-se o foco. Percebe-se que o governo se movimenta, mas não é possível ainda compreender em que direção vai. Atira, mas, se já escolheu os alvos, ainda não nos deu o prazer de conhecê-los. Dupla dinâmica Parece altiva, mas é defensiva a decisão do usineiro João Lyra de ser ouvido pelo corregedor Romeu Tuma em Alagoas, sob a justificativa de que não “pisa no Senado” enquanto Renan Calheiros for presidente da Casa. João Lyra não vai porque não quer arriscar-se a um enfrentamento direto com o ex-parceiro e muito provavelmente porque não pode dar explicações detalhadas em público a respeito de suas atividades, digamos, comerciais. Aliás, o embate entre os dois é esclarecedor. Lyra acusa Calheiros de ter feito negócios mediante o uso de laranjas, mas foi sócio nesses mesmos negócios. Calheiros abre, no microfone do Senado, o prontuário de acusações contra Lyra por crime de mando de assassinatos, mas não teve pejo em associar-se a ele na compra de um jornal e duas rádios em Alagoas. Ou seja, casa onde sobra pão (ou milhão) todos gritam e todo mundo tem razão. Inimizade eletiva Cioso da imagem de rei da fidalguia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso surpreende na reportagem-perfil da revista Piauí deste mês ao assumir publicamente aversão a alguém: “Tenho horror ao Delfim.” E explica a razão: diz que Delfim Netto, ministro de Costa e Silva, foi decisivo para a cassação dos direitos políticos de Mário Covas quando o Conselho de Segurança Nacional discutia cassar o mandato do então deputado, mas aventava a possibilidade de preservar-lhe os direitos políticos. Segundo FH, Delfim desempatou em desfavor de Covas. Ele nega a informação que Fernando Henrique alega constar de “um documento” levado a ele por um brigadeiro. “Que o Fernando apareça com a ata ou vai passar por mentiroso”, rebate Delfim Netto na reportagem.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, agosto 15, 2007
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