Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 15, 2007

Celso Ming - Caminho de volta




O Estado de S. Paulo
15/8/2007

Olha aí o dólar de volta para a casa dos R$ 2. Ontem, chegou muito perto, a R$ 1,985.

Bastaram 18 dias úteis de crise externa para que as cotações voltassem ao alpinismo. Desde 23 de julho, véspera do início da atual crise, as cotações do dólar subiram 7,8%. Apenas em agosto, a alta acumulada já é de 5,5%. (Confira o gráfico.)

O Banco Central bem que continuou seu trabalho. Nesse mesmo período de crise, as reservas subiram US$ 5,5 bilhões e, em agosto,US$ 3,3 bilhões. Ou seja, o ritmo de semanas atrás foi mantido. Mas ontem não chamou o leilão diário de compra de moeda estrangeira.

Nada como uma chacoalhada externa para mudar o jogo do câmbio. Os defensores da teoria da arbitragem dos juros ficaram sem argumento. Diziam antes que o dólar desabara porque os especuladores tiravam proveito da diferença de juros. Tomavam empréstimos lá fora a juros baixos para aplicar o dinheiro aqui dentro a juros altos e embolsavam a diferença. E essa forte entrada de dólares derrubava o câmbio.

Pois os juros continuam mais ou menos como estavam, lá fora e aqui dentro, e, no entanto, o dólar voltou a empinar. Se já não estava, parece claro agora que os juros tiveram e têm relativamente pouco a ver com a história. Convenhamos em que os excelentes resultados da balança comercial, a forte entrada de investimento estrangeiro direto e a bonança externa, conjugada com a melhora das condições internas da economia, empurraram mais o dólar para baixo do que os juros.

Cabem duas perguntas: até onde vai a nova carregada do dólar? E que efeitos poderá provocar na economia?

Não há como adivinhar até onde vai esse empuxo. Primeiramente, porque não há como prever o desenlace desse período turbulento. Ainda ontem, algumas horas depois que o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, avisava que os mercados estão caminhando para a normalidade, um importante fundo de investimentos, o Sentinel Management Group, um dos mais antigos dos Estados Unidos, pediu a suspensão das retiradas. O mercado, que já vinha grogue, rolou mais alguns metros ladeira abaixo. Enfim, os problemas continuam e, enquanto continuarem, a tendência é a de que o dólar siga em alta por redução das entradas.

Em segundo lugar, não dá para prever como atuará o Banco Central, player decisivo no câmbio. Não há como saber por quanto tempo deixará de comprar dólares ou quanto comprará.

É possível que o Banco Central tenha de rever seus critérios de atuação. Até agora, comprou dólares quando entendeu que era preciso reduzir a volatilidade ou quando convinha amontoar reservas. Daqui para frente, poderá atuar para que as cotações não subam mais e, assim, não levem com elas os demais preços da economia para cima a ponto de pôr em risco a meta de inflação.

É esperar mais uns dias para conferir os movimentos.

Arquivo do blog