Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 05, 2007

Celso Ming,O sonho do ministro


Há alguns anos as coisas eram mais simples. Rádio era rádio, telefone era telefone, TV era TV, jornal era jornal. Hoje, está tudo misturado.

Dentro de um pijama de flanela e chinelão, você curte o frio em casa. E o mundo vai desfilando diante de você. Controle remoto à mão, no seu único terminal você tem rádio, TV, música, acesso a praticamente todos os jornais e bibliotecas. De quebra, tem telefone quase de graça proporcionado pelo Skype.

Quando essas e outras novidades começaram, a internet chegava até você por meio de uma linha telefônica fixa. Hoje, as TVs a cabo ou via satélite fornecem banda larga, muito mais rápida, mais confiável, mais barata. Por meio do Protocolo Internet (IP), você pode produzir, transmitir ou ter acesso a imagem e som e, ainda com algumas limitações, ter sua própria estação de rádio ou de TV.

O momento é das tecnologias WiFi, WiMax, WiMesh - vá se acostumando com a profusão de siglas -, que trouxeram a revolução wireless. Eliminam conexão a cabo e multiplicam a eficiência dos serviços. Considere, ainda, do que são capazes os aparelhos de telefonia celular de última geração. São engenhocas que têm inúmeras funções e servem para produzir, transmitir e receber coisas do arco da velha.

Estas são transformações que estão atropelando as leis e as regras de telecomunicação. Que sentido há em manter o estatuto das concessões de rádio e TV nas mãos do Estado, se qualquer um pode (ou vai poder) veicular imagem e som, praticamente de qualquer tipo? Há hoje no Brasil cerca de 40 mil estações de rádio piratas, 20 mil delas apenas em São Paulo. As leis brasileiras ainda restringem o acesso do capital estrangeiro ao controle de editoras de jornais e revistas ou de emissoras de rádio e de TV. São exigências que pretendem garantir soberania e segurança na rede de comunicações. Mas o que significa isso se os novos instrumentos dão acesso a qualquer um a quase tudo o que é transmitido ou escrito no Planeta Terra?

Para regular e fiscalizar esse mundo em transformação, o Brasil dispõe de uma legislação desatualizada que não passa de um aglomerado de disposições desconectadas e contraditórias, à espera de uma Lei Geral coerente e moderna.

Nessa paisagem eis que aparece o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e propõe nada menos que a fusão entre duas companhias de telefonia fixa, a Oi (Telemar) e a Brasil Telecom. Mais do que isso, defende que o governo controle as decisões estratégicas da nova empresa, não por maioria de ações ordinárias, mas pela posse de uma única ação, diferente de todas as demais, a golden share, que lhe dá a última palavra.

Este é um velho sonho do ministro. Ele não esconde que pretende a volta do controle estatal ao setor sem o ônus patrimonial e financeiro, que exigiria capacidade de compra, de gerenciamento e de expansão.

Um dos objetivos da fusão proposta é garantir um mínimo de economia de escala depois que o setor de telefonia fixa foi sendo esvaziado pelo avanço do celular e da nova tecnologia.

Deixemos as questões técnicas. O que é preciso reter é que é puro casuísmo do ministro o retorno ao oligopólio sem que antes seja determinado o marco regulatório dentro do qual terá de navegar todo o setor de comunicações e não só a telefonia fixa.

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