Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 02, 2007

Celso Ming - A força continua




O Estado de S. Paulo
2/8/2007

O desempenho da balança comercial (exportações e importações) em julho passou uma informação ambígua. De um lado, foi um mês de exportações recordes (US$ 14,1 bilhões). De outro, apesar disso, apresentaram queda de 1,3% na média diária em relação ao mês anterior (julho teve dois dias úteis a mais que junho).

Em 12 meses, o saldo comercial (exportações menos importações) está praticamente no mesmo nível em que estava em julho do ano passado: US$ 45,3 bilhões. Isso sugere que o saldo comercial terminará o ano acima dos US$ 43,8 bilhões projetados pelo mercado, como mostra a Pesquisa Focus feita semanalmente pelo Banco Central.

Ainda assim, a força das exportações brasileiras continua. Elas crescem muito mais (16,1% pelo critério de dia útil) do que as exportações mundiais deste ano (9,3%, pelas previsões da Economist Intelligence Unit).

Os números do comércio exterior dos sete primeiros meses do ano pedem outras três observações.

A primeira tem a ver com a desaceleração das exportações, que, por sua vez, está relacionada com o aumento das importações. Ambas têm a ver com o salto do consumo interno, hoje em torno dos 10% ao ano. Esse avanço é bem maior do que o do PIB por quatro razões: pela disparada do crédito (21,4%, em 12 meses); pelo reajuste mais alto do salário mínimo ( 8,6% neste ano); pelo aumento da atividade econômica (cerca de 4,5%); e pela aceleração das despesas públicas (10% ao ano). Como o consumo cresce mais do que a produção, é preciso suprir a diferença, tanto com aumento das importações como com alguma transferência para o mercado interno de excedentes que seriam exportados. Os dados da indústria automobilística mostram esse movimento. As vendas internas estão crescendo a 25,7% enquanto as exportações de veículos estão caindo 3,3%. Não fosse essa enorme procura interna, as exportações do setor seriam bem mais expressivas.

A segunda observação refere-se ao forte aumento do fluxo comercial (corrente de comércio), item que soma exportações com importações. Em julho, ele foi recorde. Acumulou em 12 meses o volume de US$ 255,6 bilhões. Este é um dado importante porque reflete três fatos positivos da economia: aumento de absorção de tecnologia, que, em geral, acompanha o avanço das importações, e avanço do fluxo cambial proveniente apenas do comércio, o que reduz a dependência do fluxo financeiro, bem mais volátil.

A terceira observação diz respeito ao segmento dos produtos manufaturados, bem mais sensíveis à valorização do real. Muita gente pensa que o Brasil ainda é exportador de matéria-prima. Mas os manufaturados correspondem a 53% do total exportado. No momento crescem a 12% ao ano. Ainda não se nota prejuízo para a exportação de manufaturados como efeito da forte valorização do real. E o menor avanço dessas exportações neste ano parece mais relacionado com o aumento do consumo interno, como ficou dito, do que com as dificuldades com o câmbio.


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