Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 12, 2007

Autofagia petista

Suely Caldas


Um balanço sério e detalhado do funcionamento produtivo do Congresso nos últimos quatro anos e meio de governo Lula com certeza vai revelar um resultado pífio, medíocre, marcado por longos períodos de paralisação e marasmo decorrentes de práticas de corrupção envolvendo integrantes do governo e parlamentares, discussões e disputas políticas pequenas e muito pouco tempo voltado para a missão de votar leis, modernizar a estrutura jurídica do País.

Só o mensalão roubou mais de um ano de trabalho ativo do Parlamento. E, do episódio Waldomiro Diniz, no início de 2003, às recentes peripécias do presidente do Senado, Renan Calheiros, o que prevaleceu no Congresso foi o bate-boca ralé, a desmoralização, a política miúda tomando lugar e tempo da votação de matérias voltadas para construir o País. É um jogo em que todos perdem e, se parlamentares petistas, como José Genoino e João Paulo Cunha, conseguiram se eleger deputados, hoje o desempenho inexpressivo, silencioso e invisível dos dois no Congresso é a expressão da derrota e da desmoralização política.

O PT e o governo também saem derrotados dessa história, vítimas da incompetência em gerir crises políticas que eles próprios criaram. Impressiona a vocação do PT pela autofagia e sua incapacidade de aprender com os próprios erros, que continuam se repetindo, não param.

Na raiz desta autofagia está o despreparo em governar um país da dimensão do Brasil e tentar fazer do marketing político substituto enganador da bagagem vazia que trouxeram para o governo em 2003. Lula e companheiros não tinham programa de governo ou, se tinham, ele se mostrou inexeqüível, irreal para um país capitalista, cuja única alternativa é continuar capitalista.

É claro que essa autofagia não nasceu de forma consciente, mas cresceu com a incompetência na gestão política e administrativa e se desenvolveu com a inacreditável repetição de erros cometidos por Lula e companheiros. Desde o episódio Waldomiro Diniz, em 2003, que atingiu em cheio o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o modelo escolhido para cooptar partidos e votos no Congresso se mostrou um enorme fiasco, porque levou para o governo políticos corruptos, cujos crimes, quando descobertos, paralisaram o Congresso e impediram a votação de matérias de interesse do Executivo. Por isso nesses quase cinco anos o Parlamento passou mais tempo perdido em bate-bocas - com parlamentares se xingando, se defendendo, se acusando, num debate estéril que nada constrói (a não ser desmoralização e prejuízos para a democracia) - do que votando leis de interesse do País e da população. O tiro do PT saiu pela culatra.

O erro maior foi banalizar a desprofissionalização de nomeações para cargos públicos, aceitando docemente chantagens partidas dos piores partidos políticos, os mais fisiológicos, os que claramente buscam extrair do governo benesses para seu grupo. Mas há também o erro da arrogância, de se considerarem os melhores, sem nada a oferecer que comprove. "Nunca antes neste país", seguidamente repetida por Lula, é a frase da expressão desta arrogância. Vazia, ingênua e incrédula, virou anedota.

A arrogância (parceira da insegurança e da ingenuidade) estimulou um grupo de petistas a brincar de arapongagem e produzir um falso, tolo e primário dossiê para incriminar candidaturas tucanas em 2006. E é a arrogância do marketing político oco que faz Lula anunciar e lançar incansavelmente programas e obras que nunca são concretizados. "Quando voltar do exterior, vou transformar o Brasil num canteiro de obras", voltou a prometer o presidente na semana passada. Depois de quase cinco anos, seria o empacado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ou as natimortas Parcerias Público-Privadas (PPPs)?

Uma rara, mas visível ressalva vem da área econômica. Ao trazer para o governo uma equipe técnica de economistas competentes e odiados pelo PT, como Marcos Lisboa e Joaquim Levy, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci revelou bom senso e salvou a economia que ameaçava naufragar em 2003. E, com a blindagem da diretoria do Banco Central, garantiu sobrevida ao bom desempenho macroeconômico depois que saiu do governo. É esta terceirização de profissionais qualificados e recrutados no mercado - longe do PT - que fez melhorar a economia e pode levar ao crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

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