Amigos há mais de 20 anos, são também compadres - e duplamente: Lula é padrinho da filha de Teixeira, que batizou um dos filhos do presidente. Na forma, o texto publicado pela Gazeta Mercantil demonstra que o redator ao menos poupou o idioma dos socos e pontapés sucessivamente infligidos pelo improvisador infatigável. No conteúdo, atesta que Teixeira, em janeiro de 2002, era um homem muito interessado em questões ligadas à aviação civil. Interessado demais.
Advogado da Transbrasil havia quase dois anos, Roberto Teixeira costurou um arrazoado que o presidente da empresa agonizante assinaria sem reparos. Acabou assinado, sem reparos, pelo então presidente de honra do PT. Se o compadre achava aquilo certo, não custava endossar o palavrório. Instalado no Planalto meses mais tarde, Lula não socorreu a Transbrasil com dinheiro federal, como recomendara no artigo de Teixeira ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Tampouco ajudou a Varig, tratada como patrimônio da nação em janeiro de 2002. Deixou na mão as duas empresas. Mas não o primeiro-compadre, hoje o mais valorizado bacharel dos ares do Brasil. Depois de lucrar com a falência da cliente, Teixeira foi contratado para assessorar o grupo que comprou a VarigLog, subsidiária da Varig.
Em seguida, engendrou o arremate do restante da empresa por US$ 24 milhões. E arquitetou, sempre com o apoio do governo, a manobra que resultaria na entrega da Varig à Gol em troca de US$ 320 milhões. O advogado nega ter recebido a comissão de R$ 7 milhões por mais esse serviço prestado à aviação civil.
Se não foi tanto, chegou perto, comunicou o sorriso exibido por Teixeira em 28 de março, quando acompanhou os empresários Nenê Constantino e Constantino de Oliveira Júnior, controladores da Gol, numa visita ao Planalto. O trio queria comunicar que um pedido de Lula acabara de ser atendido. "Há seis meses, o presidente me pediu que entrasse nas negociações para salvar a Varig", revelou o patriarca Nenê Constantino, aquele que ajudou o ex-senador Joaquim Roriz a ganhar uma bezerra e perder o mandato.
A presença de Teixeira na animada comissão de frente fora sugerida pelo próprio Lula, mas o fabricante de artigos e transações aéreas gosta de lembrar que não é apenas o compadre do Homem. "Fui ao encontro como o advogado que estruturou o negócio jurídico e tinha condições de dar explicações, se isso fosse necessário", disse à saída do gabinete. "É sempre muito prazeroso estar entre amigos, como é o presidente, mas não tenho por que me arrepender. Minha presença decorreu de motivos profissionais".
Como reivindicava o artigo agora exumado, as empresas nacionais têm o amparo federal: a Anac cuida da TAM, Teixeira cuida da Gol. Mas o transporte aéreo continua em perigo, como preveniu o título. Pode morrer no governo Lula.