Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 05, 2006

Villas-Bôas Corrêa A campanha do vale-tudo

Villas-Bôas Corrêa
villasbc@uol.com.br

A campanha do vale-tudo

A campanha do segundo turno começa para valer no dia 12, quinta-feira, com o horário de propaganda eleitoral ajustado ao estilo mano-a-mano do duelo entre os dois finalistas do primeiro turno. Serão 15 dias de vale-tudo, no que se anuncia como das mais violentas decisões desta reincidente experiência democrática, com sintomas de grave crise ética e desajuste institucional.

Os dois períodos diários de 10 minutos para cada um dos finalistas, um no horário matinal de baixa audiência, às 7h, e o segundo na faixa nobre das 20h30, prometem incendiar o paiol, num crescendo que será alimentado pelas pesquisas - muito necessitadas de um choque de credibilidade, depois dos muitos vexames do azarado primeiro turno.

Antes, a partir de domingo, o aperitivo dos debates promovidos pelas redes de TV e, provavelmente, por emissoras de rádio. A TV Bandeirantes arranca na frente, mas deve puxar a fila: ninguém vai perder uma oportunidade de emplacar altos índices de audiência.

Os acertos entre partidos, as mais estapafúrdias alianças - como a do tucano Geraldo Alckmin com o casal Garotinho, alvejada pelos protestos irados do prefeito Cesar Maia ou de Lula Paz e Amor de braços abertos para acolher qualquer adesão - têm o seu peso evidente, mas não decisivo. Pelo menos, por enquanto, enquanto o alinhavo não autoriza o desenho do quadro para a arrancada. A dança dos números oferta argumentos para as análises dos apaixonados. Basta conferir a diferença de votos no mapa oficial. O candidato-presidente Lula teve 46.662.395 votos; Alckmin, 39.968.369. Portanto, uma distância de 6,6 milhões nos votos aos candidatos. Os demais candidatos arrebanharam 9.365.999 votinhos que decidirão a parada.

Saciada a curiosidade, algumas cautelas são recomendáveis. Os números não mentem, mas não são imutáveis. E não se pode desprezar a lição das últimas campanhas, como as das vitórias de Fernando Collor de Mello, as duas de Fernando Henrique Cardoso e a de Lula, na quarta tentativa, nas quais a influência dos debates marcou o compasso do sobe-e-desce nas pesquisas.

Nada sugere que teremos debates amenos, cordiais, com a troca de salamaleques. Não há como passar ao largo da baixaria que emporcalha os partidos, enlameia o Legislativo, salpica no governo, conspurca o processo democrático.

As ameaças cruzam os ares, como relâmpagos que anunciam a tempestade. O pitoresco ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, solta o busca-pé da frase da semana: "A nós interessa esse debate ético. Vamos ter a oportunidade de perguntar: qual é a posição do PSDB, de Alckmin, sobre as compra de votos para a reeleição? Por que Alckmin, quando governador de São Paulo, impediu que se instalassem 61 CPIs para investigar ilegalidades e corrupção no seu governo?".

Chumbo grosso, como se vê. Com pontaria torta que não mira no inimigo de hoje, mas no adversário de ontem. Um desvio que o candidato à reeleição cultiva com o adubo do ódio tático.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não é candidato a nada. Nos bastidores, dá o seu palpite como conselheiro da oposição.

Aqui fica a sugestão: as emissoras de rádio e TV estão perdendo a grande oportunidade de promover um debate entre Lula e FH. Sairia faísca.

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