Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 24, 2006

Sobre fascismos e o "copy right" da expressão "terceiro turno"

Sobre fascismos e o "copy right" da expressão "terceiro turno"

Há algo de fascinante num petista: o grau zero da moralidade. Mesmo Lula estando na frente, eles andaram choramingando ontem. Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais, disse ver traços fascistas no PSDB e na imprensa. E se explicou assim: “A tática fascista é a que ataca uma comunidade seja ela racial, cultural ou nacional em abstrato, sem delimitar fronteiras. E esta tática quem está utilizando é o PSDB apoiado por setores da grande imprensa". Afirmou haver uma “demonização” do PT.

Muito bem. Passemos, então, para Marco Aurélio Sargento Garcia, presidente do partido, para que ele pense essa questão do “ataque à comunidade” segundo a biologia política. Vejam o que disse o Dr. Mengele da ideologia alheia: “O programa de privatização não é uma invenção nossa. Ele faz parte do DNA dos tucanos.” Ah, sim, Marco Aurélio também criticou muito FHC, cujo governo, como sabemos, é satanizado por Lula todo dia. Parece que, segundo esses democratas, o ex-presidente deveria ficar calado. E já que delinqüência intelectual não tem limites, voltou a atribuir ao tucano a frase que nunca disse: aquele "esqueçam o que escrevi".

Lula divide o país entre os bons e os maus; atribui a seus adversários intenções que não têm; nem mesmo os trata pelo nome, chama-os simplesmente “eles” (como se fossem o mal), mas fascistas, obviamente, são os outros. Enquanto Tarso e Marco Aurélio brincavam de guerrilha ideológica, Dilma Rousseff chamava para o entendimento a oposição — ou parte dela. Disse que tinha a certeza de que uma parcela da oposição não quer o “terceiro turno”. Marta Suplicy fez a mesma coisa. Tentou ver no PSDB uma divisão entre, de um lado, José Serra e Aécio Neves e, de outro, Geraldo Alckmin e FHC. Pobre Marta! Tanto estica-e-puxa deve ter-lhe afetado os miolos...

Direi mais uma vez: com ou sem a reeleição de Lula, é claro que os governadores eleitos, da situação ou da oposição, têm como tarefa prioritária, vejam só!, fazer um bom governo, sem abrir mão de aplicar as políticas que entendem corretas. Num Estado hipertrofiado como é o brasileiro, dependem, em boa parte, do governo federal. Não lhes cabe ficar tentado derrubar presidente.

Mas lhes cabe, como a qualquer brasileiro — e isso inclui os juízes —, apoiar as instituições para que se vá até o fim na apuração da tramóia do dossiê. Se a investigação bater em Lula, o que é que Dilma, Tarso e Marco Aurélio esperam? Que anistiemos o presidente? Que lhe concedamos uma licença para fazer lambança? Repito aqui o título do meu artigo de setembro na Veja: “urna não é tribunal; não absolve ninguém”.

Aliás, na sua compulsão de mimetizar tudo o que a história brasileira já produziu de ruim, não custa lembrar que a expressão “terceiro turno” tem copy right: pertence a Collor. Quando começou o caso PC Farias, com os primeiros protestos da sociedade civil, o valentão dizia, vejam só, que o PT queria o terceiro turno das eleições... Collor caiu, e o PT achou aquilo muito justo. E notem bem: caiu por muito menos, seja no dinheiro ilegal que seu grupo movimentou, seja na afronta à ordem legal. Hoje, não custa lembrar, estão juntos...

Aquele rapaz era mesmo um amador.
Por Reinaldo Azevedo

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