Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 24, 2006

Por que Alckmin venceu o debate

Por que Alckmin venceu

O debate da Band, aquele em que Geraldo Alckmin foi notavelmente severo com Lula, gerou uma grande distorção nas análises. Não por causa do debate em si, mas do que a ele se seguiu. Como Lula cresceu nas pesquisas, e o tucano caiu, o que foi unanimemente percebido como a vitória de Alckmin foi de transformando num suposto erro estratégico ao longo da semana. Aí veio o do SBT, em que Alckmin resolveu ser frio e técnico, abrindo mão de interpelar Lula duramente. Sim, ele perdeu. E eu apontei isso no mesmo dia.

No encontro da Record, o desempenho médio do tucano foi bastante superior ao do petista. Houve um empate em dois dos blocos, e Alckmin venceu dois deles — amplamente. Ou seja: ganhou a partida. Será esta também a percepção do eleitor? Como eu posso saber? Já lhes disse que avaliações de debate costumam sofrer o viés das preferências eleitorais. Se houver alguém indeciso de fato, escolherá o tucano. O que o PSDB e PFL precisam fazer agora — e são ruins nisso — é conseguir transformar essa vitória em notícia.

E a que se deveu a superioridade de Alckmin? Justamente às críticas aos desvios éticos do governo, para as quais Lula não tem resposta além de “vamos apurar tudo”, “não sobrará pedra sobre pedra” e generalidades contíguas. E sempre resta a questão, que Alckmin voltou a repetir: de onde saiu o dinheiro? Por que Lula não pergunta a seus companheiros? A resposta do petista para o superfaturamento do Aeroporto de Congonhas foi horrível. Chegou a dizer que as obras não foram pagas. Foram. Também não disse a verdade quando afirmou que estão no Siafi os dados sobre os cartões corporativos, exceção feita aos da Abin. Não é verdade. Ao indagar Alckmin sobre em que área ele faria o corte de gastos, o tucano foi rápido: “Em primeiro lugar, na corrupção”. Gol contra do petista.

Lula teve dois bons momentos: quando Alckmin estourou o tempo listando as irregularidades do governo do adversário, o Babalorixá lhe concedeu mais 30 segundos, de braços cruzados, destemido. Não deixou de ser um gesto teatral esperto. E também quando falou sobre o Nordeste — aliás, quem teve a idéia de jerico de sugerir a Alckmin que fizesse uma pergunta sobre a região? Lula deitou e rolou na demagogia.

Mas, na maior parte do tempo, o petista ficou nas evasivas e cometeu, a meu ver, o erro de ser irônico. Se, no debate do SBT, sua ironia não se confundiu com prepotência, nesta segunda, ela me pareceu evidente. O tucano, corretamente, não caiu na provocação e chamou a postura do adversário de desrespeitosa. Um dado a observar é que Lula já não tem mais receio de admitir que incorporou a mentira a seu discurso, como é o caso da acusação de que seu adversário vai privatizar a Petrobras. Chegou a dizer que era uma excelente oportunidade de ele desmentir. Entenderam? O outro que desminta, porque ele continuará mentindo.

Por que não?
Alckmin, e isso certamente foi decisão do comando de campanha, decidiu não usar o caso Gamecorp-Telemar. Poderia ter levado ao ar reportagem da revista Veja em que um lobista encrencado com a polícia confessa ter emprestado sala ao filho de Lula. Reitero. Isso não é questão “familiar”. Aliás, em outro post, eu escrevi que micose é pessoal, dinheiro público, não. Leitores protestaram. Até a micose pode ser uma questão coletiva se quem está com o problema quiser usar uma piscina. É verdade. A vida privada de um homem público está sujeita a um escrutínio muito mais severo do que a de um cidadão comum. E é bom que seja assim. Imaginem se não estivesse...

O leitor quer sempre saber nessas horas: o debate vai virar o jogo? Um debate não vira jogo. Um conjunto de ações, sim. Vamos ver como os tucanos e pefelistas se comportam no pós-debate. É preciso criar uma onda, digamos, positiva relacionada ao desempenho do candidato. Uma jornalista pediu a Lula que apontasse as melhores qualidades do seu adversário. Ele, com ironia, disse que Alckmin já lhe pareceu melhor; que, hoje em dia, já não sabia; que se dava bem com tucanos etc. Tentou estabelecer alguma intimidade com o oponente. Encontrou um paredão de frieza. Alckmin respondeu que tinha respeito por todo mundo, mas que não contassem com ele para a impunidade. Lula fechou a cara.

Em suma: mesmo não tendo usado todas as armas que seria conveniente usar, a superioridade do tucano foi evidente. E duvido que os petistas não saibam disso. Quanto a virar ou não o jogo, meus caros, aí estamos falando de outro domínio.
Por Reinaldo Azevedo

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