Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 03, 2006

Sobre as estratégicas de campanha

Sobre as estratégicas de campanha

Os sinais estão claramente dados pelo PT. A campanha do segundo turno será centrada na comparação entre o governo Lula e o governo FHC. Os petistas insistirão em que Alckmin representa a retomada do governo do ex-presidente, e isso significaria que o Brasil estaria caminhando para trás, em vez de avançar. Podem escrever aí: não vão largar esse osso de jeito nenhum. O PSDB tem três caminhos a seguir, dois errados e um certo. Há sinais de que pode fazer besteira.

Vamos ao que não deve. Em primeiro lugar, não deve ser defensivo, como se o que viesse de lá fosse verdade. Numa resposta ao Jornal Nacional de 80 segundo, Lula deixou entrever a estratégia, repetida no programa Roda Viva por Arlindo Chinaglia e por Ideli Salvati. Se o tucanato ficar com medo da comparação e tentar relativizar os dados, em vez de encará-los de frente, está perdido.

O outro caminho errado, mas certamente muito influente, será fazer de conta que os ataques não estão acontecendo, ignorando a campanha do adversário. Foi fazendo rigorosamente isso que o PSDB viu Lula sair de 38, 39 pontos para até 52, enquanto Alckmin estava meio empacado. Deslanchou quando surgiu mais um escândalo e quando resolveu comprar a briga.

O terceiro caminho é fazer a devida defesa não do governo FHC propriamente — ele já vai meio longe na memória do eleitor, mas do que há aí de virtuoso e que começou ou foi decidido pelo governo do PSDB. Eu sempre fico muito impressionado que jamais se tenha deixado claro, com competência, a revolução havida na área de telefonia do país em tão curto espaço de tempo, por exemplo. É um evento inédito no mundo. Do mesmo modo, esquece-se o período na hiperinflação, da desordem econômica, de que foram próceres alguns dos aliados atuais de Lula. Ironicamente, costuma-se cair no jogo do PT e julgar que as novas gerações já não têm memória do ocorrido.

Uma campanha existe justamente para que se faça a guerra política. O erro que Alckmin pode cometer é eliminar a memória do seu partido, enquanto o PT fará de tudo para recuperá-la e, claro, narrá-la de seu modo perturbado. Sim, será preciso ser propositivo; será preciso falar com mais clareza ao Nordeste — enquanto Lula vai tentar se concentrar no Sul e no Sudeste —, mas que não se cometa, mais uma vez, o erro de fazer de conta que Lula não faz política, que sua campanha não existe. Chamar as coisas pelo nome que elas têm sempre será um exercício eficaz.

Veja-se o caso da ex-quase-senadora Jandira Feghali, do PC do B do Rio. Antes favorita, bastou que se explicitassem suas posições favoráveis à ampliação das situações do aborto legal, e ela despencou. Não concordo com ela, mas nem estou tratando disso agora. Só estou observando que os que rejeitam a sua militância conseguiram ligar o pensamento à pessoa. Muito dirão que ela foi vítima do preconceito e do atraso. Mentira! Ninguém lhe atribuiu nada em que não acreditasse e que não integrasse a sua pregação política. Ocorre que era um dado do seu pensamento que não havia sido chamado à primeira linha do debate. Quando isso se deu, vimos o que aconteceu.

Eu estou com aquela carta premonitória de FHC, redigida dias antes de estourar o mais novo escândalo do PT. É preciso que o PSDB saiba defender a sua herança e a sua história. Sempre olhando para a frente, claro. Mas se olha para a frente porque se tem um passado e uma herança. O PT falará desse passado buscando que os tucanos ou fujam ou se defendam. É preciso recuperá-lo como arma de ataque. Por Reinaldo Azevedo

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