13.10, 18h12
Hoje continuo a seqüência de textos prometida há dois artigos, quando
tentei escrever de forma simples e compreensível sobre os tropeços do
governo Lula. Naquele (clique aqui), escrevi sobre a condução da
política energética. Foi um desastre, mas o assunto deste artigo é
outro.
No último debate entre os candidatos à Presidência da República (e o
primeiro que Lula dá o ar da graça, e que graça!) a ética foi tratada
com destaque. Vamos tentar analisar a relação entre a nossa sociedade
e a tal da ética.
Alguns pseudoconhecedores de antropologia dizem que "o brasileiro é
assim mesmo. Que roubar é normal. Todos roubam quando chegam ao
poder". Eu pergunto ao leitor: Você roubaria se chegasse ao poder?
Você desviaria dinheiro da saúde, das escolas ou mesmo da construção
de estradas, que, por serem de pior qualidade, causam a morte de
milhares de pessoas todos os anos, sem contar os prejuízos
econômicos? Claro que deve ter aquele que responde sim.
Mas será que somos todos bandidos? Será que deveríamos transformar
nosso país em um imenso presídio, bonito pela própria natureza, onde
seremos dignos apenas de suspeita?
Não leitores, não somos isso tudo. Não somos seres rasos, não somos
uma "raça" inferior à do primeiro mundo ou das nações que, mesmo mais
pobres que a nossa, cultivam princípios morais e éticos, acima de tudo.
Recentemente, no auge da crise do mensalão, o presidente, que deveria
zelar pelo cumprimento das regras que norteiam nossa sociedade, disse
que "somos todos iguais", transferindo para a sociedade a crença de
que somos mesmo assim. Traduzindo para uma forma chula ou lula, seria
como dizer "companheiros, relaxem e gozem, somos todos bandidos",
complementando o que disse seu ministro do Crime, Márcio Thomaz
Bastos ao considerar bandido aquele que usa caixa dois.
Na verdade, a ética passou a ser um valor que não se mede mais pelas
condutas do indivíduo, mas pelo partido ao qual é filiado ou ao qual
serve. Por exemplo: é ético roubar, desde que seja para manter o
presidente onde ele está; é ético traficar dossiês fajutos, desde que
ele sirva ao PT; é ético usar dinheiro ilícito para comprar dossiê
ilícito, desde que seja para o benefício do PT; é ético dificultar as
investigações de assassinatos se elas atrapalharem a reeleição do
presidente companheiro, como quando o governo dificultou nos casos
Celso Daniel e Toninho do PT de Campinas.
Logo, se vê que os conceitos estão distorcidos.
Desde o mensalão, deputados e senadores foram parar no Conselho de
Ética por terem seus assessores envolvidos com dinheiro ilícito.
Mesmo que não tenha surtido muito efeito, isso aconteceu. Agora, o
que me dizem de um coordenador de campanha envolvido com atos
criminosos? Por isso, é imprescindível que o Senado Federal tome uma
postura firme e implacável contra o senador Aloizio Mercadante, que
teve como coordenador da sua campanha o senhor Hamilton Lacerda,
flagrado pelas câmeras de um hotel com malas de dinheiro de origem
desconhecida para entregar à gangue do dossiê. Ora, para coordenar
uma campanha não se escolhe um desconhecido. É um cargo da mais alta
confiança e entrosamento que beira a cumplicidade. Não é óbvio isso?
Bem, se até aí todos concordaram, então vamos em frente. O recém-
eleito deputado federal pelo PT Ricardo Berzoini era presidente
nacional do PT e coordenador da campanha de Lula. Foi afastado ou
afastou-se depois que foi levantada a suspeita, pela Polícia Federal,
da sua participação na gangue do dossiê.
Se existe a lógica para deputados e senadores e seus assessores e
coordenadores, essa lógica deve existir para o presidente e seu
coordenador. Se não chegarmos a essa conclusão, que fechemos de vez o
portão deste imenso presídio em um berço esplendido, e vejamos quem
tem o maior estilete.