Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 12, 2006

PT faz gritaria contra proposta de Nakano, mas quer a mesma coisa


Um jornal consegue começar a fugir no nhenhenhém quando faz o que o Estadão fez na edição desta quinta-feira. Em vez de se limitar a reproduzir declarações, tentou entender e buscou interpretar o que está em debate. Leia com atenção o que vai a seguir. Por Evandro Fadel: “O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, atacou ontem a proposta do economista Yoshiaki Nakano de reduzir os gastos do governo no equivalente a 3 pontos percentuais do PIB, embora ele mesmo defendesse, antes do período eleitoral, a redução das despesas governamentais. Bernardo acreditava ser possível chegar ao déficit nominal zero - quando as receitas empatam com as despesas, incluídos os juros. E hoje o déficit nominal do governo federal supera os 3% do PIB. Nakano é o principal assessor econômico do candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, que tem se queixado de 'terrorismo eleitoral'. Para Alckmin, o presidente Lula e seus ministros têm se especializado em espalhar boatos. Nakano é cotado para o Ministério da Fazenda num eventual governo Alckmin.
Bernardo afirmou ontem, em Curitiba, que o corte proposto por Nakano obrigaria o governo a acabar com o Ministério da Saúde, o da Educação e, provavelmente, com o do Desenvolvimento Social. 'Acabar e não fazer mais nada nessas áreas', acentuou. 'Acho difícil que ele tenha falado nesses termos e, se falou, não leu o Orçamento.' Bernardo esteve em Curitiba a convite de empresários para discutir reivindicações do setor. Mas comunicado à imprensa sobre a visita foi distribuído pelo comitê de campanha pela reeleição do presidente Lula.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, foi na mesma linha. 'Pelo que eu entendi, o próprio Nakano e outros dizem que querem cortar (gastos) para aumentar investimentos, então o que sobra são (os cortes) de gastos sociais', disse.
Ocorre que, por caminhos diferentes, a equipe econômica de Lula tem formulação próxima da de Nakano. Antes do período eleitoral, Bernardo e o ministro Guido Mantega vinham dizendo que seu projeto para o segundo mandato era cortar os gastos do governo gradativamente, em degraus de 0,1 ponto porcentual do PIB, e manter a economia para pagamento de juros - o superávit primário, hoje com meta de 4,25% do PIB. Assim, o governo chegaria ao ponto em que sua arrecadação seria suficiente para cobrir a totalidade de suas despesas - o chamado déficit nominal zero.
Detalhe: este ano, o déficit nominal do governo central alcançou 3,18% do PIB, de janeiro a agosto. Isso quer dizer que para chegar ao ponto desejado pelos ministros, será necessário cortar gastos em valor próximo dos 3% do PIB de Nakano. Antes, Bernardo previa atingir esse patamar até 2009 ou 2010.

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