A marcha dos palhaços |
Coluna - Élio Gaspari |
O Globo |
4/10/2006 |
Na segunda-feira, com aquelas olheiras que só a adversidade eleitoral produz, Nosso Guia candidatou-se ao lugar de coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República. Fez isso quando tratou do Dossiê Vedoin e disse o seguinte: "Eu quero saber quem arquitetou essa obra de engenharia para atirar no próprio pé." Quer? Pergunte a Ricardo Berzoini e a Aloizio Mercadante. Eles podem ajudar. Ao tratar de um crime como curiosidade, Lula assumiu a condição de padrinho dos malfeitores petistas, aloprados e trambiqueiros. Padrinho no sentido da figura de Dom Corleone/Marlon Brando. Não há nenhuma prova, indício ou pista de que haja bico tucano na construção do papelório. Há apenas um raciocínio lógico: se os tucanos foram favorecidos pelo episódio, há dedo deles na produção. Coisa assim: a invasão da Rússia por Hitler permitiu que Stalin consolidasse a sua tirania, donde, Hitler foi uma jogada de Stalin. Admita-se que o raciocínio de Lula está certo. No início de setembro, um tucano teve uma idéia: vamos pedir ao Vedoin que faça um dossiê contra o Serra, ele o vende ao PT, nós flagramos os compradores, fotografamos o ervanário e botamos o escândalo na imprensa. Um petista aloprado come a isca, compra-se o caso, acerta-se a publicação da denúncia, combina-se o pagamento e vai-se a um hotel buscar mais uns docinhos. Nisso reserva-se R$1,7 milhão, em grana viva, para os chantagistas. Se isso fosse verdade, o presidente de honra do PT teria razão ao chiar. O da República não é pago para tumultuar inquéritos. Os petistas que negociaram com um delinqüente cometeram uma contravenção ao trocar denúncia por dinheiro e um crime ao remunerar bandidos. Transgrediram as leis da República. Respeitaram apenas a regra do silêncio de Dom Corleone. Diante de um crime, o presidente da República não pode agir como advogado de porta de xadrez. (Será que em 1954 os capangas de Gregório Fortunato foram pagos por Carlos Lacerda para atirar no major Rubens Vaz?) Em São Paulo e no Rio houve zonas eleitorais onde madames grisalhas, elegantes e gentis distribuíam narizes de palhaço. (Senhoras parecidas com aquelas que fizeram a Marcha da Família em 1964.) O sujeito ganhava uma bolinha vermelha e ia para a seção eleitoral. No comércio, a bolota de plástico custa R$2,50 e a de esponja sai por R$3, crime eleitoral explícito, mas isso fica para depois. Contra quem esse feliz palhaço protesta? Paulo Maluf? João Paulo Cunha? Clodovil? Lula? O calor que o senador Eduardo Suplicy tomou de Guilherme Afif Domingos mostra que se quebrou a associação da decência ao PT. Se são todos iguais, Lula é igual a Maluf e Fernando Collor. Exagero? Ouça-se Maluf: "Tenho plena consciência de que o presidente Lula é um homem limpo e correto." E Lula: "Collor poderá, se quiser, fazer um trabalho excepcional no Senado." Lula e o PT associaram-se a práticas indecentes. Fizeram isso porque quiseram. A mistura custou o resultado de domingo. A soberba poderá custar a seguinte. A Justiça Eleitoral precisa estar cega para permitir a distribuição de prendas na área onde é proibido repassar santinhos de candidatos. Mesmo assim, o palhaço sempre poderá votar com um nariz que trouxe de casa. Ou Lula pára de dizer monstruosidades, ou verá a marcha dos palhaços. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 04, 2006
A marcha dos palhaços
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