Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 17, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Armas e armadilhas

BRASÍLIA - Lula faz malabarismos para tirar o escândalo do dossiê da pauta e botar no lugar o que seria uma espécie de furor privatizante dos tucanos. Ele, os petistas e seus aliados, não param de ameaçar com o lobo mau tucano, que vai engolir e privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a CEF e todos esses feudos do PT.
O povão do Bolsa Família não está nem aí, mas engenheiros, geólogos, bancários e a classe média ainda indecisa no segundo turno estão "com medo" -para ressuscitar, às avessas, o discurso da eleição de 2002. Medo de Alckmin, eleito, sair privatizando freneticamente.
A dúvida é: se a "esquerda" tem uma política de ocupação das estatais, e se a "direita" quer privatizar tudo, para onde correr? Ponto para a estratégia petista, que aparentemente estancou o movimento de indecisos e desconfiados rumo a Alckmin nas últimas semanas do primeiro turno, no mínimo para forçar o segundo turno.
Mas a revista "Veja" balançou a estratégia ao contar como o ministro Márcio Thomaz Bastos (que está em todas!) e a Polícia Federal deram um jeitinho para que o petista Gedimar recuasse e tirasse o nome de Freud Godoy do escândalo dos R$ 1,7 milhão da compra do dossiê contra tucanos. Gedimar disse que Freud era um dos responsáveis. Depois, retirou o que dissera.
Esse entra-e-sai de Freud de mais essa lambança petista tem um bom motivo: ele é o único envolvido que não é só da campanha de Mercadante, nem só da campanha de Lula, nem só do PT; ele é de dentro do Palácio do Planalto. Tirar Freud é tirar o Planalto da linha de tiro.
Se a reportagem da "Veja" é correta, Tarso Genro fala só da boca para fora ao dizer que o "eleitor está exaurido do debate sobre a ética". O PT sabe que não está. A oposição sabe melhor ainda. A questão é qual arma, ou armadilha, é mais mortal: a ética contra Lula ou a privatização contra Alckmin.


elianec@uol.com.br

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