Dora Kramer - O fator província |
O Estado de S. Paulo |
6/10/2006 |
Com quatro dias de campanha para a disputa final da Presidência da República, Geraldo Alckmin já sofreu dois pesados prejuízos por causa de problemas regionais. A continuarem nesse ritmo, o PSDB e o PFL tomarão do PT o lugar de campeão do fogo amigo. A campanha do presidente Luiz Inácio da Silva só por inércia deixará de fazer algum uso - no horário gratuito de televisão ou fora dele, se a Justiça Eleitoral impedir - da cena do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, dizendo que Alckmin se 'uniu à corrupção' ao receber apoio de Anthony Garotinho. Só por apatia não ressaltará a previsão da candidata ao governo do Rio apoiada pelo PFL, Denise Frossard, de que 'a rejeição de Garotinho cairá no colo de Alckmin'. Só por absoluta prostração não mostrará o deputado Jutahy Magalhães, líder do PSDB na Câmara, cantando a derrota, na Bahia, do candidato de seu partido por causa da aliança com o senador Antonio Carlos Magalhães, cujo candidato foi derrotado pelo PT na disputa ao governo, fato muito festejado pelo tucano, de resto um dos mais fiéis correligionários do governador eleito de São Paulo, José Serra. 'Estamos muito felizes com a vitória de Jaques Wagner, derrotamos o carlismo, essa força do atraso. Se aqui na Bahia passar a idéia de que a sua vitória é a tábua de salvação do carlismo, sua derrota será imensa', vaticinou Jutahy, completando para Alckmin em pessoa, face a face: 'Digo isso de forma pública, não para constrangê-lo.' Se não foi um constrangimento, o céu proteja o candidato Alckmin quando para com ele seu partido tiver nefastas intenções. Note-se que o índice de apostas na derrota de Alckmin por conta de rusgas de província é até agora de 100%. Ele fez duas visitas a Estados e, nas duas, levou um contravapor daqueles, em tese, encarregados de carrear votos para sua candidatura. No Rio ainda se pode argumentar que Frossard e Maia agiram em legítima defesa da honra na disputa regional, embora do ponto de vista do projeto nacional tenha sido um tiro no peito, pois o barco atingido é o mesmo. Na Bahia, nem essa justificativa existe. A contar pelo tom dos primeiros acordes da campanha tucana, o PT encontrou um páreo duro no quesito autocombustão. O polemista A exuberância oratória do ex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes pode ajudar muito a campanha de seu candidato, o presidente Lula. Mas, dependendo da calibragem, pode atrapalhar também. Em três dias no papel de consciência crítica já disse bem-feito à passagem de Lula para o segundo turno, fez-se porta-voz de versão corrente segundo a qual os tucanos 'plantaram' Luiz Antônio Vedoin no caminho dos petistas para armar-lhes uma arapuca, e chamou - muito bem chamado, por sinal - o controlador-geral da União aos costumes por uso indevido de veículo público em atividade eleitoral. Se o eleitor não compreender bem sua tarefa de corregedor, pode enxergar nas declarações apenas um reforço às razões da oposição. Emenda Em meio ao charivari provocado pelas reações de Cesar Maia e Denise Frossard ao apoio de Anthony Garotinho, a palavra mais ouvida entre os administradores do prejuízo na campanha de Alckmin era 'humildade'. Ao voltar atrás, o candidato seguiu o conselho. Não obstante tê-lo feito de maneira tão explícita que evidenciou o acerto da campanha de Lula ao provocar, com o anúncio imediato do apoio de Sérgio Cabral, o açodamento do tucanato para produzir um contraponto, dando a Garotinho o tratamento de troféu, agora recolhido à prateleira. Em chamas É tenso o clima dentro do PSOL. De um lado, um grupo pressiona pelo apoio a Lula, por identidade ideológica. De outro, a senadora, presidente e até semana passada candidata do partido à Presidência, Heloísa Helena, insiste na manutenção da coerência na posição de quem no primeiro turno atacava Alckmin por seu 'neoliberalismo' e acusava Lula de patrocinar o 'banditismo político'. Segundo ela, a neutralidade no segundo turno foi pré-requisito acertado dentro do partido para sua candidatura. 'Eu avisei que não teria condições de apoiar nenhum dos dois e só nessa condição aceitaria concorrer à Presidência. Do contrário, seria candidata em Alagoas', diz. A senadora considera 'oportunistas' as posições tanto dos companheiros de partido que querem apoiar Lula quanto dos que a acusam de impor silêncio ao PSOL. 'Não quero que se calem nem vou propor punições partidárias a ninguém, mas não aceito que me peçam para fazer um papel de vigarista política, apoiando um candidato que até outro dia eu chamava de bandido.' Na opinião de Heloísa, se contradisser seu discurso de campanha o PSOL vai se desmoralizar. 'Exatamente como pretendem os ministros de Lula que pressionam por declarações de apoio alegando uma identidade inexistente.' |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 06, 2006
Dora Kramer - O fator província
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