Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 21, 2006

CLÓVIS ROSSI Usina de "chutes"


SÃO PAULO - Os debates tão solicitados vieram, e o que se verifica é que servem para muito pouco, na medida em que os dois candidatos mentem descaradamente, chutam números com uma sem cerimônia fora do normal e se esgoelam em auto-elogios.
Sorte que, pelo menos na Folha, há o implacável e competente Gustavo Patu para curar a tortura que os números sofrem na boca dos candidatos, em especial do presidente da República.
O debate do SBT foi, conforme escreveu Patu ontem, "um festival de números enganosos declamados pelos dois candidatos". O presidente nem sabe a taxa de juros, embora seja assunto praticamente cotidiano nos jornais. De novo dou voz a Patu: "No mundo do petista, a Selic, a taxa do BC, já caiu a 6,85%. Alckmin não aproveitou para lembrar que a taxa está em 13,75%" (será que o ex-governador também não sabe?).
A tortura aos números invade também o âmbito do horário eleitoral gratuito. No debate da Bandeirantes, uma semana após a eleição, Lula gabou-se de ter criado 7 milhões de empregos. Quatro dias depois, ao começar o horário gratuito, já eram 7,5 milhões. Meio milhão de novos empregos em quatro dias é mesmo para dizer "nunca neste planeta ou em qualquer outro se criaram tantos empregos em tão pouco tempo". Pena que os dois números sejam enganosos.
Quando da sabatina com Lula, no Palácio da Alvorada, o presidente tinha sobre a mesa uma porção de "colas" com números e fatos de seu governo. Uma delas mostrava que a média mensal de criação de emprego estava em 102 mil e quebrados (não deu para ler a centena). Multiplique-se 102 mil por 48 meses e dá 5 milhões, arredondando para cima, pelos quebrados.
Como é que o eleitor pode vigiar os candidatos se ambos se revelam uma usina de "chutes" e não há um Patu ao lado de cada votante?

crossi@uol.com.br

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