Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 08, 2006

CLÓVIS ROSSI Purificação meia boca

SÃO PAULO - A introdução da chamada "cláusula de barreira" deu uma purificada no sistema partidário, certo? Pelo menos, reduziu para oito o número de partidos autorizados a gozar das vantagens do pleno funcionamento parlamentar.
Oito, se o Tribunal Superior Eleitoral referendar a interpretação mais lógica da regra. Mas a purificada, como quase tudo no Brasil, é meia boca.
Para começar, oito partidos é uma demasia. Não há no Brasil e no mundo oito diferentes ideologias, programas nem mesmo oito idéias-força diferentes a serem oferecidas ao eleitorado.
Prova-o o fato de que, no mundo civilizado, o jogo se dá entre dois partidos grandes, bem grandes, coadjuvados por um ou dois menores. São trabalhistas e conservadores no Reino Unido, democratas e republicanos nos Estados Unidos, socialistas e conservadores na Espanha e por aí vai.
Nesse jogo reduzido, há espaço até para extremos, caso da Frente Nacional na França, no que é, a um só tempo, a beleza e a vulnerabilidade da democracia, que permite a existência de gente que sonha em acabar com ela.
Mas o excesso de partidos, mesmo após a purificação, não é o único problema. Há ainda a absurda indiferenciação entre eles, claramente retratada na foto-arte "A salada fluminense de Lula", publicada por esta Folha na sexta-feira. Sem grande esforço, a "salada" poderia ser reconstituída para todos os demais partidos.
Mais: os oito partidos que superaram a cláusula de barreira amontoam-se todos do centro à direita.
Não há esquerda, já que PSOL-PSTU não passaram no teste. O sistema político-partidário é obviamente desfuncional. E ainda vai se verificar que a desfuncionalidade é, ao menos em parte, a causa de todos os demais -arquiconhecidos- problemas sociais, éticos, econômicos etc.


crossi@uol.com.br

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