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Lei é lei. E não há lei mais capaz de produzir efeito do que a da oferta e da procura. Qualquer mexida em uma das suas duas pontas muda o preço.
Quinta-feira, reunida em sua sede em Viena, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que controla nada menos que 28% da oferta internacional de petróleo, anunciou corte de 1,2 milhão de barris diários (de 159 litros), ou 1,4% da produção mundial. O objetivo declarado é defender os preços do produto à altura dos US$ 60 por barril.
Foi a primeira decisão desse tipo em dois anos. O corte anunciado foi 200 mil barris superior ao esperado. Pelos termos da lei da oferta e da procura, os preços deveriam subir ou, então, deixar de cair. Aconteceu o contrário. Ontem, no fechamento do mercado de Nova York, as cotações do West Texas Intermediate (WTI), o melhor óleo leve do mercado, baquearam 2,9%, sinal de que o mercado não levou a sério a decisão da Opep. Chakib Khelil, ministro das Minas e Energia da Algéria e futuro presidente da Opep (em 2007), parecia ter captado a desconfiança no ar: 'Está à prova a credibilidade da Opep', dissera ao término da reunião.
Para entender o que aconteceu (ou o que não aconteceu) é preciso avaliar melhor os fatos.
Em meados de julho de 2006, os preços do petróleo chegaram ao pico de US$ 78. Tinham vindo dos US$ 39, em janeiro de 2005, por força de um punhado de fatores e não só do aumento do consumo chinês. A guerra do Iraque havia exigido reforço dos estoques estratégicos; meia dezena de furacões açoitou as regiões produtoras do Golfo do México; o terrorismo islâmico atacava as instalações do Oriente Médio e os estoques estavam perigosamente baixos. Em julho deste ano houve a invasão do Líbano pelas tropas de Israel, o que estressou o mercado, que não sabia aonde iria parar aquilo. Com fundamentos altistas, os administradores de carteiras puseram-se a especular.
Uma vez assinado o cessar-fogo no Líbano, os preços começaram a escorregar (veja gráfico). Neste ano, não houve furacões devastadores; os reservatórios estavam mais cheios do que um ano antes; as férias de verão no Hemisfério Norte, temporada de forte consumo de gasolina, foram mais contidas; e os fundamentalistas islâmicos não mostraram a mesma eficiência destrutiva.
Logo, o mercado percebeu que a oferta estava cerca de 1 milhão de barris diários mais alta do que a demanda (85,2 milhões de barris diários e 84,2 milhões de barris diários, respectivamente).
Uma vez tomada a decisão de reduzir a oferta, um a um, os dez ministros de Petróleo da Opep, trataram de passar à opinião pública e aos analistas de mercado a noção de que havia coesão no grupo. Os cortes seriam proporcionais às exportações de cada país. A Arábia Saudita, o maior produtor mundial, comprometia-se a fechar as torneiras em 380 mil barris diários. Seu influente ministro Ali Al-Naimi não só garantia que sustentaria o plano de cortes, mas adiantou que, se fosse necessário, iria mais fundo. O relutante ministro Kazem Hamaneh, do Irã, que às vésperas dizia que não aceitaria restrições, concordou em cortar 176 mil barris. O ministro Rafael Ramirez, da Venezuela, que antes tentava empurrar eventuais cortes sobre os países que excedem suas cotas de suprimento (notadamente a Nigéria), também concordou em reduzir as vendas em 138 mil.
A Opep é conhecida por furar os acertos duramente consensuados e descarregar sobre a Arábia Saudita a maior parte do ajuste. Mas não dá para apostar firme na tendência de baixa por uma definitiva razão sazonal. O acordo entra em vigor em 1º de novembro, às vésperas do início dos suprimentos de óleo para calefação destinados ao enfrentamento do inverno nos países do Hemisfério Norte.
Daqui para frente, os especialistas vão levantar o nariz e farejar insistentemente o ar. Se sentirem um vento gelado a caminho, correrão às compras e o mercado se inverterá. Se isso não ocorrer, não haverá o que possa aparar a queda de preços.