Tanto pior, melhor! |
Coluna |
O Globo |
13/8/2007 |
Fora do Congresso, piora a situação de Renan Calheiros (PMDB), acusado de ter tido despesas particulares pagas por um lobista de empreiteira e de ser o dono oculto de três emissoras de rádio em Alagoas. Dentro do Congresso, a situação dele melhora. A maioria dos seus pares parece cada vez mais convencida a salvá-lo de uma eventual cassação. A Polícia Federal deve concluir esta semana o exame dos documentos de defesa apresentados por Renan ao Conselho de Ética do Senado. O resultado será ruim para ele. Originalmente, os documentos foram reunidos para provar à Justiça que Renan carecia de renda para pagar a pensão mensal exigida pela jornalista Mônica Velloso, mãe de uma filha dele. Mônica pedia R$12 mil. Renan oferecia R$3 mil. A pensão foi fixada em R$7 mil. Renan imaginou que os mesmos documentos serviriam para provar ao Senado o contrário. Ou seja: que ele tinha renda para bancar os gastos de Mônica. Foi uma má idéia. O senador José Sarney (PMDB-AP) aconselhara Renan a silenciar sobre o caso, alegando que ele corria em segredo na Justiça. Em seguida, Renan sairia de férias e só voltaria depois que o assunto esfriasse. Renan preferiu se defender antes de ser formalmente acusado. E quando soube, pelo senador Wellington Salgado (PMDB-MG), que uma maioria apertada de votos garantiria no Conselho de Ética o arquivamento do pedido de abertura do processo contra ele, respondeu: "Quero a unanimidade". Ferrou-se. Havia contra Renan a acusação de que parte de suas despesas com a ex-amante fora paga pelo lobista Cláudio Gontijo. O Conselho de Ética recebeu mais duas representações que pedem a cassação de Renan. A primeira, do PSOL, dá conta de que ele ajudou a cervejaria Schincariol a se livrar de uma dívida de R$100 milhões com o INSS. A Schincariol comprou por R$27 milhões uma fábrica de refrigerante falida de Olavo Calheiros, irmão de Renan. A segunda representação, assinada pelo DEM e o PSDB, ampara-se em denúncia da revista "Veja" de que Renan, em sociedade secreta com o usineiro João Lyra, comprou em 1998 um jornal e duas emissoras de rádio em Alagoas. Pagou em espécie R$1,3 milhão. E pôs a empresa em nomes de "laranjas". A sociedade se desfez em 2005. Lyra saiu com o jornal e Renan com as rádios, avaliadas em R$2,5 milhões. No dia 2 de julho último, sob a presidência de Renan, o Congresso aprovou a outorga da concessão de mais uma rádio para o grupo de comunicação dele. Em entrevista à "Veja" desta semana, Lyra confirma que Renan foi seu sócio secreto. O Conselho de Ética será forçado a ouvir Lyra. Afinal, ele é de fato a primeira testemunha de um ato irregular praticado por Renan. Gontijo apenas admite que intermediou pagamentos de Renan a Mônica. Essa, por sua vez, diz que recebeu dinheiro de Gontijo, mas que desconhece sua origem. No passado, Lyra foi aliado político de Renan e financiou suas campanhas. Depois os dois se desentenderam. O aumento da crença pública de que Renan quebrou o decoro pouco tem a ver com o aumento da disposição dos seus colegas para cassá-lo. Pelo contrário. Até aqueles que mais cobram a renúncia de Renan à presidência do Senado confessam que ele dificilmente perderá o mandato. Quem dentro do Senado não teve despesas pagas por um amigo? Quem não foi infiel à mulher? Quem não é dono de emissoras de rádio e de televisão registradas em nomes de terceiros? Quem não foi alvo de acusações de adversários? Poucos. De resto, a maioria dos senadores teme que a cassação de Renan estimule o surgimento de denúncias contra vários deles. Joaquim Roriz (PMDB-DF) renunciou ao mandato ao se descobrir que recebera um cheque de R$2,2 milhões de Nenê Constantino, dono da Gol. Gim Argello, o suplente que assumiu a vaga de Roriz, pode ser cassado por ter beneficiado Nenê na compra de um terreno em Brasília. Se cai o presidente do Senado, quem mais ali se sentirá seguro? Então... |
Entrevista:O Estado inteligente
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