Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 12, 2007

Semana acaba sem mais estragos nas bolsas


Alberto Tamer*


Não é crise, é só turbulência, mas seja o que for, assustou, e muito, o mercado financeiro nestes dois últimos dias de uma semana que começou em clima ameno. As intervenções de pelo menos sete bancos centrais, principalmente na eurozona, de US$ 223 bilhões, e nos Estados Unidos, de US$ 59 bilhões, aliviaram as tensões e as ondas de venda de ativos.

Após queda de até quase 3% na quinta-feira, e forte baixa na manhã de sexta-feira, a bolsa americana recuperou a forte perda de quinta-feira e fechou a semana equilibrada. O Down Jones fechou com alta de 0,4%, o S&P, com mais 1,4% e o Nasdaq, com 1,3%.

No Brasil, um resultado idêntico, com a Bovespa recuperando as perdas e encerrando a semana com alta de 0,4%. Mas, como nos EUA, houve enormes ganhos neste ano, o que dá margem a novos recuos, mesmo porque investidores estrangeiros, que pesam muito, estão vendendo seus ativos para compensar as perdas que tiveram em outros mercados.

VOLATILIDADE CONTINUA

Mesmo assim, os analistas afirmavam no fim da tarde de sexta-feira que a situação era ainda instável. Mas há agora menos tensão e mais confiança na ação dos bancos centrais, que, afirmam, deveriam ter agido antes. Reconhecia-se, também, que a reação do mercado foi exagerada, em parte por causa do fato de que as ações estavam excessivamente valorizadas.

Além da extrema liquidez, os investidores tinham mais estímulo de vender, porque, mesmo perdendo um pouco, ainda continuavam ganhando muito, pois, como as altas eram constantes, de qualquer forma, sempre sobrava uma boa margem de lucro.

Era uma situação insustentável e bastava apenas um fósforo para o rastilho correr, com vendas que afetaram fundos e bancos. Só foi apagado na sexta-feira pelo sopro de recursos dos bancos centrais. ''''Acima de tudo, eu acredito que é importante não sucumbir ao desejo emocional de vender, tornando a situação ainda pior'''', afirmava, em nota, com extremo bom equilíbrio e bom senso, o estrategista do Citigroup, Tobias Leckivich.

James Glassman, economista-sênior do J. P. Morgan, indiretamente concordava ao interpretar a intervenção do Fed, banco central americano.

''''A intervenção de hoje (sexta-feira), do Fed, é uma tentativa de quebrar psicologicamente o medo de que há um problema de liquidez. É por isso que ele está fazendo barulho ao anunciar o que fez.''''

NERVOSISMO EXCESSIVO

No fundo, parecia ter sido isso, mais nervosismo e medo, que levou a uma grande corrida de saques nos fundos, atingindo importantes instituições financeiras. Foi sério.

De qualquer forma, para atacar ambos, os bancos centrais dos EUA, Canadá, Europa, Suíça, Austrália, Tailândia,Cingapura, Malásia, Filipinas e Indonésia injetaram recursos no mercado, que, mesmo com alguma perda na Ásia, voltou a um equilíbrio, mesmo instável.

CASA, UM BOM NEGÓCIO

A dúvida era: quem iria arcar com o prejuízo final? O Fed também deu a entender que esta era a hora de os investidores pagarem o preço do risco que haviam decidido correr. Os investidores vinham obtendo fortes ganhos não só nas ações, mas também na compra e venda de imóveis, com uma ou mais hipotecas, que repassavam com lucro. Um apartamento ou uma casa passou a ser não só um patrimônio, mas um ativo financeiro. Ao lado, havia os que ousaram demais, se endividando sem renda para pagar as prestações. Tudo isso, deu no que deu. Acabou.

CALMA! NÃO É O FIM

Apesar da exacerbação dos ânimos havia consenso na sexta-feira nos EUA que a economia vai bem e pode perfeitamente absorver o choque de confiança que domina o mercado.

O crescimento do PIB poderá ser até meio ponto menor; está agora estimado em 2% ou 2,2%, mas pode haver recuperação nos próximos trimestres, pois a redução dos ganhos na bolsa não chegou a afetar o consumidor, que está mais preocupado com a alta dos preços da gasolina, esta sim, pesando mais no seu bolso e reduzindo sua margem de compra.

Além disso, os lucros das empresas americanas no exterior aumentaram 16,3% no último trimestre em relação ao anterior, compensando, de longe, os ganhos de apenas 2,7% internamente. Não há razão para pânico nem medo de uma depressão nem nos Estados Unidos, nem no mundo.

ECONOMIA AGÜENTA BEM

Alan Greenspan afirma ao Wall Street Journal que ''''nos anos recentes, a economia americana tem desenvolvido flexibilidade para absorver ajustamentos severos''''. Ele refuta a acusação de ter sido a origem de tudo isso, quando praticou por muitos anos uma política de juros extremamente baixa, até negativa, de 1%, o que teria levado à bolha imobiliária. Argumenta que, após o ataque terrorista de 2001, tinha de reanimar a economia. ''''Sabíamos que estávamos correndo risco, mas bancos centrais não podem evitar riscos (....). O que estamos vivendo agora são os efeitos.''''

''''Esses períodos adversos são dolorosos, mas são inevitáveis se nós escolhermos manter um sistema no qual o povo é livre para correr riscos, uma condição necessária para um crescimento econômico máximo e sustentável.''''

E não se pode negar que, após 2001, a economia manteve durante seis anos um crescimento de mais de 3% em média e que esse crescimento foi provocado pela forte expansão do setor imobiliário, hoje representando 4% do PIB.

Agora, é só corrigir. E cabe ao Fed orientar essa correção, o que está fazendo. O próximo passo pode ser uma redução da taxa de juros. A ventania passou sem chegar ao Brasil. Temos fortes âncoras para nos proteger de naufrágios.

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