Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 18, 2007

RUY CASTRO

A utopia da melancia quadrada RIO DE JANEIRO - Um dia, ao guardar uma melancia na geladeira, certo agricultor japonês da ilha de Shikoku observou que ela tomava mais espaço do que precisava. Com sua forma arredondada, deixava cantos vagos que não podiam ser ocupados com nada. Além disso, a falta de estabilidade a tornava difícil de cortar. Um caso clássico de erro de design por parte da natureza.
O homem resolveu agir. Passou a cultivar melancias dentro de caixas de vidro -ao crescer, elas teriam de adotar o formato da caixa. Vinte anos e muitas gerações de melancias depois, em 2001, ele colheu as primeiras melancias quadradas. Isso é um fato. As agências internacionais até deram as fotos.
Não que as melancias quadradas fossem perfeitas. Entre outras coisas, em alguma fase do processo, perdiam a doçura e ficavam neutras como pepinos. E quem precisa de pepinos quadrados?
Ao ler aquilo, pensei que, quando um país se dá ao luxo de cultivar melancias quadradas, é porque chegou ao ápice e já resolveu todos os outros problemas. Mas o Japão também tem seus problemas.
Depois me convenci de que, ao contrário, quanto mais um país tem problemas, mais deveria cultivar melancias quadradas. Enquanto seus economistas queimam pestanas para fazer o país andar, é preciso que um sonhador se debruce sobre a utopia da melancia quadrada.
O perigo é quando os economistas resolvem eles próprios partir para a melancia quadrada. Esta semana, enquanto as Bolsas desabavam pelo mundo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizia, feliz como água de chafariz, que o Brasil estava numa boa, cheio da grana, e nada nos atingiria. No fundo, estava apenas produzindo uma melancia quadrada.
Agora que os fatos o desmentiram, ele precisa explicar o tamanho do pepino.

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