Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 17, 2007

Risco Brasil



EDITORIAL
O Globo
17/8/2007

Mais um dia de queda nas bolsas mundiais aumentou a percepção da possibilidade de que a crise de crédito deflagrada pelo aumento da velocidade do esvaziamento da bolha especulativa inflada sobre o mercado hipotecário americano tenha alguma influência na economia real. O próprio secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, em entrevista publicada ontem no "Wall Street Journal", admitiu algum efeito negativo sobre a economia dos Estados Unidos, embora não acredite em recessão. Mas economistas, banqueiros, operadores, ninguém arrisca projetar a dimensão do refluxo do crédito provocado pelo desmoronamento de incontáveis operações assentadas em hipotecas emitidas a partir de financiamentos imobiliários concedidos a maus pagadores em potencial.

Uma das centelhas do desabamento do mercado ontem foram as suspeitas de que a maior empresa de crédito imobiliário americana, a Countrywide Financial, poderia quebrar. Apenas no primeiro semestre, a Countrywide concedeu US$245 bilhões em empréstimos, 9% a mais que no ano anterior, ou 17% de todo o mercado de hipotecas dos Estados Unidos. As especulações começaram quando a empresa anunciou ter obtido empréstimos bancários de emergência no valor de US$11,5 bilhões.

Os títulos lastreados nessas hipotecas subprime já causaram problemas a bancos na Austrália, na Inglaterra, na França e na Alemanha. No Brasil, onde não há fundos que adquiriram esses papéis, o efeito se dá na fuga de capitais pela venda de ações por pessoas físicas ou jurídicas que precisam de dinheiro para arcar com prejuízos no exterior ou escapam para aplicações consideradas mais seguras.

As autoridades nacionais não se cansam de garantir a robustez da nossa situação em comparação a outras crises. De fato, as reservas de mais de US$155 bilhões são tranqüilizadoras, a alta do dólar até ajuda as exportações - embora gere pressões inflacionárias -, mas, na hipótese de um agravamento do quadro, ficará mais visível nas avaliações de risco a fragilidade fiscal do Brasil. Trata-se, afinal, de um país de elevadíssima carga tributária, com despesas em custeio em alta, numa velocidade acima do crescimento da própria economia.

Que isso não sirva de argumento a favor da prorrogação da CPMF como ela é: além de se tratar de um imposto daninho à produção, é possível reduzi-la, paulatinamente - com prazo certo para torná-la apenas um instrumento de fiscalização tributária -, e ao mesmo tempo cortar gastos em custeio e preservar um superávit primário capaz de estimular a confiança no país em meio às turbulências.

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