Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 02, 2007

Por Furnas, PMDB muda o projeto da CPMF


RAPHAEL GOMIDE, LETÍCIA SANDER e LORENNA RODRIGUES
Folha de S. Paulo
2/8/2007

Luiz Paulo Conde recebe convite oficial de Lula para assumir estatal; bancadas de PMDB e PSC pressionaram por nomeação

Governo quer evitar partilha do imposto com Estados e municípios; Eduardo Cunha (PMDB), relator do projeto, agora deve mudar o texto

A nomeação do ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas Centrais Elétricas, confirmada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi uma barganha política das bancadas na Câmara dos deputados do PMDB e do PSC do Rio, em troca da aprovação da prorrogação da CPMF. Conde deve assumir dentro de dez dias.
Nem o governador do Rio, Sérgio Cabral, nem o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, tiveram envolvimento direto na indicação. A articulação foi feita pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), relator da emenda da CPMF. A proposta relatada por ele prevê que a arrecadação de cerca de R$ 40 bilhões com o imposto seja dividida pela União com Estados e municípios -o que geraria enorme perda ao governo federal.
Em troca do abandono do projeto, a bancada do Rio ganhou a presidência de Furnas, segundo apurou a Folha. Cunha ainda ocupa outro cargo considerado estratégico pelo governo na Câmara: é presidente da CPI do Apagão Aéreo.
Procurado, o deputado não ligou de volta. A assessoria de Conde disse que ele não comentaria o assunto.
O pacto se deu por intermédio do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. Além de dirigir a estatal, a expectativa do comando do PMDB é controlar o fundo de pensão Real Grandeza, que conta com investimentos superiores a R$ 3 bilhões.
Antes muito próximo a Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, Cunha perdeu poder com a saída do casal do governo estadual, onde controlava a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) e o Prece, seu fundo de pensão. Conseguiu novo foco de domínio -Furnas e Real Grandeza. Como vice-governador, Conde ajudou Cunha na campanha de 2006 e recebeu agora a retribuição.
A indicação de Conde passou ainda pelo PSC, partido ligado a Garotinho. Com três deputados, o PSC vai emplacar uma diretoria na empresa.
No Planalto ontem, Conde disse que Lula procurava um "gestor" e confirmou ter aceitado o convite. "Ele queria um gestor para acelerar as obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]", afirmou.
A Folha apurou que Lula pretendia resolver a situação do ministro Nelson Hubner (Minas e Energia) -que assumiu interinamente com o pedido de demissão de Silas Rondeau- antes de nomear o presidente de Furnas. Mas o Planalto considerou que era preciso dar um sinal à base aliada logo na retomada do recesso.

Mensalão
Na crise do mensalão em 2005, o ex-deputado Roberto Jefferson afirmou que havia um caixa dois em Furnas, que mensalmente enviava R$ 3 milhões para o PT e parlamentares da base. Uma auditoria interna de Furnas investigou a acusação, que não foi comprovada, segundo o resultado tornado público pela empresa.
O Real Grandeza foi alvo de apurações da CPI dos Correios. A comissão identificou o que chamou de "investimentos de risco" do fundo: aplicações de R$ 181 milhões, entre 2003 e 2004, nos bancos BMG e Rural, envolvidos no "valerioduto".
A entrada de Conde muda o eixo de poder em Furnas, que teve vinculações estreitas com políticos mineiros.

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